Artigo produzido em co-autoria com Osmário Francisco Xavier Junior.
LIVROS APÓCRIFOS
DEFINIÇÂO
O
termo "apócrifo" foi criado por Jerônimo,
no quinto século, para designar basicamente antigos documentos judaicos
escritos no período entre o último livro das escrituras judaicas, Malaquias e a vinda
de Jesus Cristo.
São também considerados apócrifos os livros que não fazem parte do cânon da
religião que se professa. A palavra em si mesmo significa “coisas escondidas”.
CONCEITOS
Para
muitas pessoas, particularmente cristãos protestantes, os apócrifos são uma
coleção de livros proibidos ou heréticos que devem ser evitados.
Católicos
e cristãos ortodoxos não se refeririam a estes livros como apócrifos. Ao invés
o termo Deutero-canonico(“deuterocanônicos”, isto é: livros do “segundo
cânon) é usado para distinguir esta coleção suplementar de trabalhos
“canônicos” do protocanonicos livros do AT. Católicos e cristãos ortodoxos
tendem a usar a palavra apócrifos para pseudo-epigrafes
Longe
de ser uma ameaça a fé, o apócrifo do AT são uma testemunha vital,
especialmente a fé do povo judeu que viveu no período entre o terceiro século
A.C e o primeiro século D.C.
Tinha
mais importância para os judeus da diáspora que os da palestina, apesar de
alguns poucos livros que se originaram na palestina continuaram a ser lidos ou
citados (como Bem Sira), ou contado sua história (como Judite e 1,2 Macabeus)
bem no período rabínico apesar de seu status “não canônico”. Pag. 16
A
medida de sua utilidade é atestada também em sua inclusão no principal
manuscrito de tradução grega do AT ( chamado de septuaginta LXX) pag. 17
ORIGEM, CONTEÚDO, DATA E AUTORIA
Os
diferentes escritos vieram da palestina, Alexandria (Egito), Antioquia (Siria),
e possivelmente mesmo da pérsia( Da ampla comunidade judaica que
estabeleceu-se e permaneceu em Babilônia
depois da deportação de Nabucodonosor) alguns foram escritos em Gregos outros
em hebraico e aramaico. Eles são uma testemunha vital para a fé, especialmente a fé do povo judeu
que viveu no período entre o terceiro século AC e 1 século DC.
Eles
contêm o testemunho da fé judaica que buscava viver sua lealdade a Deus em um
mundo muito conturbado. Difícil identificar um tema único, mas a maior
preocupação de muitos destes textos envolvem como os judeus respondem ao
helenismo e de perseverar como uma cultura minoritária em um mundo grego. São
questões que continuamos a enfrentar: Quais desafios ameaçam o compromisso do
contemporâneo povo de Deus, e como encontrar uma resposta de fé a Deus em nosso
mundo?
Conteúdo:
Eles contem informações sobre o período formativo do judaísmo dentro do qual a
igreja primitiva cresceu: Nos
dias de Jerônimo passou a significar literatura falsa e até hoje permaneceu.
Uma boa maioria aponta para o Eclesiástico em 190 AC como o primeiro, e dai existem muitas
hipóteses chegando-se a extremos de umas afirmando terem aparecido os primeiros
livros 300 anos antes de Cristo e outras colocando-os até três séculos depois
de Cristo. Lislie E. fuller coloca grande parte dos apócrifos entre 100AC e
130DC.
Se
a cronologia é quase insolúvel não menos
o é a data onde foram produzidos. Os estudiosos da matéria não chegam a um
acordo e para cada livro são apontadas dezenas de lugares possíveis onde foram
escritos.
A
autoria também é muito incerta, a maioria reconhece, por exemplo, que macabeus não foram escritos por nenhum membro
dessa histórica família.eles também foram adotados com nomes de efeito por questão de prestigio pessoal. A igreja
católica resolve o problema valendo-se da autoridade: Assim para ela “acréscimo
a Ester” foram escrito por mardoqueu, “acréscimo” a Daniel por Daniel, Sabedoria por Salomão.
PAIS DA IGREJA E OS APÓCRIFOS
Pais
gregos como Orígenes e clemente que usavam a bíblia grega que continham estes
livros, freqüentemente citavam eles como escrituras, divina escritura,
inspirados ou algo semelhante. Mais tarde os pais da igreja rejeitaram de
varias formas este conceito de Canon, mas foi aceito e mantido no ocidente por
St. Agostinho. Onde havia uma diferença entre a a grega e a hebraica Agostinho
sustentava que a diferença era devido a inspiração divina, e que esta diferença
era pra ser considerada como um sinal que estas passagens em questão, uma
alegórica- não literal- interpretação deveria ser buscada.
Concílios
da igreja primitiva aceitaram os apócrifos: Roma (382), Hipona (393) e Cartago
(397).
Apesar
do católico romano ter 11 obras de literatura a mais que a versão protestante,
apenas 7 livros a mais, ou um total de 46, aparecem no índice (o AT judeu e o
protestante têm 39). Como se vê na tabela seguinte, outras 4 peças de
literatura estão incorporadas a Ester e Daniel.
Por
outro lado professores conectados com Palestina e familiares com o Canon
hebraico, como os africanos e Jerome, declararam que todos os livros de fora do
Canon hebraico como apócrifos.
Jerônimo
(320-420), que traduziu a Vulgata que é usada pela Igreja Católica Romana,
rejeitou os livros apócrifos, uma vez que ele acreditava que os judeus
reconheceram e estabeleceram o canon correto do Velho Testamento. Lembre-se, a
Igreja Cristã construiu muito em cima desse reconhecimento. Além disso, Josefo
(o famoso historiador judaico do primeiro século) também nunca mencionou os
apócrifos como sendo parte do Canon.
“Em
uma grossa simplificação se não fosse por Agostinho estes livros poderiam ter
se perdido pra a igreja e se não fosse por Jerônimo nós poderíamos nunca
distingui-los como coleções separadas do antigo testamento”. (David A de Silva”
Introducing the apocrypha)
POSIÇÃO DO CONCÍLIO DE TRENTO E
LUTERO
O
concilio de Trento(1545-1563): Se alguém não receber, como sagrado e canônico,
todos os livros ditos com todas as suas partes, como eles tem sido lidos na
igreja católica, e como eles estão contidos nas antiga vulgata latina… que sejam
anátemas.
Concílios
da igreja primitiva aceitaram os apócrifos: Roma (382), Hipona (393) e Cartago
(397) pronunciamento [do Concílio] de Trento sobre os apócrifos foi parte
de uma ação polêmica contra Lutero. Seus defensores consideravam que a
aceitação dos apócrifos como inspirados era necessária para justificar
ensinamentos que Lutero havia atacado, principalmente as orações pelos
mortos.
Lutero
influenciado pelo impulso humanista de volta às fontes (ad fontes) e
pretextando a “veritas hebraicas”, estabeleceu o Canon hebraico como normativa
e colocou os “libri ecclesiastici” de Jerônimo em apêndice, sob a seguinte
denominação: apócrifos, isto é, livros que não podem ser equiparados às Sagradas
Escrituras, mas cuja leitura é boa e proveitosa.
ALGUNS LIVROS APÓCRIFOS
1
Esdras (150 e 50 A.C)
1
e 2 Macabeus (104 A.C)
Sabedoria
de Bem Sira (195 e 124 A.C)
Sabedoria
de Salomão (150 e 50 ou 120 e 80, A.C)
1
Esdras: entre 150 e 50 AC, reconta os eventos presentes em Esdras e Neemias,
que fala do retorno dos judeus exilados em babilônia e do restabelecimento do
templo de Jerusalém.
1
e 2 Macabeus: Contam a história da tentativa em 175AC a 167 AC de dissolver a
identidade judaica e fazer a população da Judéia “como as nações” através da
helenização e a bem sucedida resistência liderada por Judas Macabeus e seus
irmãos.
Sabedoria
de Bem Sira (também chamada de Sirach ou Eclesiasticus) é Uma comprida coleção
de instruções de de um sábio de Jerusalém do inicio do 2º século antes de
Cristo poucas décadas antes da crise de helenização em que levou a revolta
macabéia.
Sabedoria
de Salomão é produto da Diáspora judaica na Grécia, mostra um contato intimo
com o pensamento grego mas sem o desejo de abrir mão dos valores judeus. Este
livro é um tratado de Ética recomendando a sabedoria e a retidão, e condenando
a Iniqüidade e a idolatria.Talvez judeu egipcio( não são coleções
de curtas citações, mas argumentos muito mais desenvolvidos e instruções).
LIVROS APÓCRIFOS X LIVROS DO CANON
HEBRAICO
Contradições:
1.
Ensino da Arte Mágica – Tobias 6:5-8. Refutação bíblica: Marcos 16:17; Atos
16:18
2.
Dar Esmolas Purifica do Pecado – Tobias 12: 8 e 9; Eclesiástico 3:33. Refutação
bíblica: 1 Pedro 1:18 e 19; Judas 24
3.
Orações pelos Mortos – 2 Macabeus 12: 42-45. Refutação bíblica: Atos 2:34;
Isaías 38:18; Lucas 16:26; Isaías 8:20.
Ensino
do Purgatório – Sabedoria 3:1-4 (imortalidade da alma.
O
Anjo Relata uma Falsidade – Tobias 5: 1-19.
Uma
Mulher Jejuando toda Sua Vida – Judith 8: 5 e 6.
A
Imaculada Conceição – Sabedoria 8:19 e 20.
Pecados Perdoados pela Oração – Eclesiástico
3:4
Ensinos
da Crueldade e do Egoísmo – Eclesiástico 12:6
Encantamentos
Tobias 6:5-8 coração de peixe sobre brasas
Se,
por um lado, os apócrifos não possuem a verdadeira doutrina de Cristo e de sua
Igreja, por outro lado têm grande valor histórico pois demonstram as correntes
ideológicas (religiosas e morais) do período em que foram escrito. Eles contem
informações sobre o período formativo do judaísmo dentro do qual a igreja primitiva
cresceu.
LIVROS PSEUDOEPÍGRAFOS
DEFINIÇÃO
Além
dos Apócrifos, existem outros livros que não são considerados inspirados, os
quais os evangélicos chamam de PSEUDEPÍGRAFOS, e os católicos, de “apócrifos”.
São
definidos como: Escritos judaicos pseudônimos ou anônimos.
Essa
palavra portuguesa vem do grego, pseudepigraphos, que significa “escrito falso”
ou “escrito espúrio”. O termo é usado para aludir, especificamente, à ideia de
“falsa autoria”. Em outras palavras, os livros assim chamados não foram
escritos pelos autores aos quais são atribuídos. Exemplos: Enoque não foi
escrito por Enoque, Apocalipse de Abraão não foi escrito por Abraão.
Era
costume na antiguidade atribuir um livro qualquer a alguma pessoa antiga e bem
conhecida. Isso sucedia em campo religioso e secular. Os motivos variavam: desejo de uma melhor distribuição de uma obra
recente, honrar o nome usado, promover as ideias e tradições dos alegados
autores.
Utilizado
à bíblia, o termo pseudoepígrafos refere-se usualmente ao Antigo Testamento, os
do Novo Testamento são chamados de “Apócrifos”. Os livros pseudoepígrafos do AT
são uma coletânea separada dos livros Apócrifos, separados também do Canon
palestino e Alexandrino do AT.
Apesar
de não estarem incluídos em nenhum Cânon, eles alcançaram considerável
prestígio, tendo influenciado as ideias do judaísmo helenista, e daí sobre
certas ideias do NT.
A
expressão pseudepígrafo, no contexto do início do Judaísmo, poderia ser
utilizado para se referir para um corpo de diversos escritos de tradições
judias ou judeu-cristãs que:
A)
não estão incluídos no AT ou NT, apócrifos e entre a literatura rabínica;
B)
estão associados com livros bíblicos ou personagens bíblicos;
C)
são mais frequentes do que não escritos
em nome dos dignos antigos bíblicos;
D)
transmitem uma mensagem de Deus que é relevante para o tempo em que os livros
foram escritos;
E)
São escritos durante o período de 200 a.C – 200 a.D, ou se depois ditos,
preserva as tradições judaicas do mesmo período.
Por
uma questão de definição os apócrifos seriam os livros extra canônicos
encontrados na maioria na septuaginta e não na vulgata latina.
ALGUMAS POSSÍVEIS RAZÕES PARA TEREM
SIDO FEITOS
Durante
séculos Deus enviara Seus servos, os profetas, com mensagens especiais
convidando Seu povo a voltar-se para Ele. Todavia não prestaram atenção. Assim,
durante todo o período intertestamentário não receberam nenhuma mensagem
profética. De acordo com a tradição judaica a profecia havia cessado com os
profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.
Era
uma época de tristeza e desesperança. Como não houvesse nenhuma orientação
inspirada, alguns resolveram escrever, mesmo sem inspiração, com o objetivo de
consolar e encorajar o povo. Todavia, como o cânon já estava fechado, se
colocassem o seu próprio nome como autores, seus escritos não seriam
considerados. Então, anotaram como autores os nomes dos grandes personagens de
Israel, heróis e destacados líderes espirituais que viveram antes de fechar-se
o cânon: Abraão, José, Moisés, Salomão, Isaías, Jeremias, etc. Como resultado,
com o correr do tempo esses pseudepígrafos tiveram grande circulação entre os
judeus e cristãos e foram amplamente aceitos.
CARACTERIZAÇÃO GERAL
A) É considerado
um terceiro desenvolvimento: Canon AT, Apócrifos, Pseudepígrafos.
B) São datados
de 200 a.C. e 200 d.C, quase todos eles são de natureza apocalíptica.
Se conhece
a antiguidade dos pseudo-epigrafes por meio de filo de Alexandria, Josefo, e
dos manuscritos do mar morto.
C) Sua maior
influência é na área da tradição profética, pois a maioria versa sobre questões
apocalípticas.
D) Apesar de não
serem canônicos, são bem representados entre o material achado nas cavernas
próximas do Mar Morto. Isso implica que, entre os Judeus em Jerusalém e os
judeus da Dispersão, eles eram importantes. Lançam luz sobre o pano de fundo
judaico do Novo Testamento.
E) Os Católicos
Romanos preferem o nome Apócrifos, provavelmente porque os livros que os
protestantes chamam de apócrifos são livros canônicos para os católicos romanos.
F) Muitas obras
pseudepígrafas são anônimas. Porém, muitas são de “falso autor”.
G) Conteúdo:
Tudo quanto faz parte religião aparece ali, desde ensinos éticos até relatos de
experiências místicas, desde profecias até exposição escriturísticas, desde
história até poesia, desde filosofia até liturgia, desde apologética até
didática.
Mas
as ênfases principais são ensinos, apologética, temas filosóficos,
pseudonarrativas com as devidas lições morais e espirituais, a busca da
espiritualidade por parte da alma, principalmente através de experiências
místicas.
Além
disso, visões e iluminações, a ascensão a esferas celestiais, a descida a
esferas infernais, com a consequente aquisição de conhecimentos. Mas, se
quisermos salientar um tema maior, então temos as expectações apocalípticas dos
diversos autores.
O
conteúdo é mais variado do que o AT.
O
judaísmo pós exílico se destingiu por volumosos e variadas literaturas de
épicos tragédias, tratados de filosofias, de talvez histórias reais, imaginativas recriações do passado, de sonhos
apocalípticos e visões de um outro mundo,, de sabedoria humanística, acusações
contra Deus até, hinos de introspecções de submissão a Deus reconhecendo sua
justiça e salvação,. Gênios Judeus
explodiram em novos e criativos escritos . Ilustrou a difundida influencia dos livros do
antigo testamento no antigo judaísmo. Vemos nos pseudo epigrafes as
consecutivas conquistas da palestinas pelos persas gregos e romanos. Mostra
como os judeus pós exílios foram espinhos para as nações que tentaram
conquistá-los, as divisões partidos, e as tensões entre eles.Assim são
importantes fontes de entendimento da dimensão social do judaísmo primitivo.
COMO SÃO CLASSIFICADOS
Nenhum
único método de classificação tem merecido a aprovação de qualquer grande
número de eruditos. Porém, o método favorito de classificação é por
“procedência”. Através deste método, a classe maior é a do grupo
hebreu-aramaico ou palestino.
Método por procedência
Principais
obras do grupo maior palestino: Testamento dos 12 patriarcas, Jubileus,
Martírio de Isaías, Salmos de Salomão, Ascenção de Moisés, o Apocalipse Siríaco
de Baruque, o Testamento de Jó, os Paralipomena (coisas passadas) de Jeremias o
Profeta, A vida de Adão e Eva, As Vidas dos Profetas.
Grupo
judaico-helenista: Carta de Aristéias, Oráculos Sibilinos, III Macabeus
(relatos lendários), IV Macabeus (obra de cunho filosófico), o Enoque
Eslavônico, e parte do Baruque escrito em grego.
Método por Gênero Literário (Alguns
exemplos)
Narrativas:
Jubileus, a Vida de Adão e Eva, os Paralipomena de Jeremias.
Testamentos:
Os doze patriarcas, Jó
Escritos
litúrgicos: Salmos de Salomão, Hodayoth dos manuscritos do mar morto.
Apologias:
Carta de Aristéias, III e IV Macabeus, Oráculos Sibilinos.
Apocalipses:
Enoque, Moisés, Baruque.
Alguns
livros possuem vários gêneros, então esta classificação não é final, porém é
útil.
OBRAS PSEUDOEPÍGRAFAS
A
obra “The Old Testament Pseudepihrapha” de James Charlesworth, apresenta 65
livros dessa natureza.
Mais
conhecidos:
-
I Enoque
-
II Enoque
-
A assunção de Moisés
-
O testamento de Abraão
-
A vida de Adão e Eva
-
O apocalipse Grego de Baruque
-
O apocalipse Siríaco de Baruque
-
Martírio e Ascensão de Isaías
-
Paralipomena de Jeremias
-
Livro dos Jubileus
-
Salmo de Salomão
-
Oráculos Sibilinos
-
Testamentos dos doze patriarcas
-
Oração de José
-
III Macabeus
-
IV Macabeus
INFLUENCIA DOS ESCRITOS
PSEUDOEPÍGRAFOS
Curiosidade
Apesar
de serem de origem judaica, não teriam sido preservados sem os labores de
escribas cristãos. Foram essencialmente preservados em grego, latim, siríaco,
etiópico, cóptico e armênio. Vale ressaltar que a descoberta destes livros que,
com a descoberta do rolos do mar morto, estes livros foram confirmados com
grande antiguidade, anteriores aos trabalhos dos cristãos.
Segundo
o autor (fonte), alguns escritores do NT incorporaram ideias (especialmente
aquelas atinentes a predições proféticas).
Apologistas
cristãos acharam nesses livros materiais de valor, como aquele que enfatiza
questões devocionais.
Esses
livros serviam de modelo para obras cristãs similares, especialmente aqueles
chamados de apócrifos.
No judaísmo Helenista
O
período intermediário entre o Antigo e o Novo Testamentos foi um tempo fértil
quando ao desenvolvimento e mistura de ideias. O antigo judaísmo absorveu
muitas ideias que não apareciam no próprio AT. A ideia da alma encontrou
guarida na teologia Judaica, após muitos séculos primeiramente de incredulidade
e então de obscurantismo. As chamas do inferno foram acesas pela primeira vez
em I Enoque, uma ideia transferida então para o Novo Testamento. O esboço
essencial da tradição profética foi elaborado durante esse período
intertestamentário, conforme fica comprovado no artigo chamado Enoque Etíope.
Ascenções aos céus e descidas às regiões infernais tornaram-se temas populares.
Desse modo, os livros pseudepígrafos (juntamente com os escritos apócrifos, com
os livros de Josefo e manuscritos do mar morto) vieram a outorgar-nos
discernimento sobre a natureza do pensamento religioso e filosófico dos tempos
judeu-helenistas. É necessário que o estudioso volva-se para os livros
pseudepígrafos a fim de entender o desenvolvimento que teve lugar na teologia do
judaísmo, após o encerramento do cânon do AT.
Sobre o NT
O
trecho de Judas 14 é o único empréstimo direto que se vê no NT desses livros
(Extraído de I Enoque). Todavia, há vários empréstimos verbais, o que indica
que os autores do NT estavam acostumados com aqueles livros, não hesitando em
incorporar as ideias de alguns deles em seus escritos. Acima de tudo, o que
pode ser facilmente comprovado, os autores do NT incorporaram em suas obras o
esboço profético geral dos livros pseudepígrafos, incluindo muitos termos e
noções que se aplicam ao Messias. Ver sobre o Enoque Etíope, quanto a uma
completa demonstração. Também não poderíamos deixar de mencionar aqui o
conceito de um inferno em chamas, tomado por empréstimo de I Enoque.
Deus
orientou o idoso apóstolo João, para que escrevesse o último livro da Bíblia
seguindo o mesmo estilo apocalíptico já tão conhecido por Seu povo.
Ideias desenvolvidas nesse período
O
conceito da alma tornou-se universal no judaísmo, algumas vezes vinculado à
ideia de reencarnação.
Um
inferno em chamas tornou-se doutrina para alguns judeus.
Foi
desenvolvida uma elaborada angelologia, incorporando-se ideias persas, mas,
ocasionalmente com adições inéditas e fantásticas.
Foi
dada grande ênfase ao apocalipticismo.
Doutrinas
messiânicas, algumas delas de elevada ordem, bem como o esboço geral das
predições proféticas.
A
doutrina da ressurreição dos mortos ficou estabelecida.
CURIOSIDADES
Exemplo
de influências de pseudepígrafos no NT: I Enoque 1:6 citado em Judas 14.
I
Enoque 1:6
“Em
verdade! Ele virá com milhares de Santos, para exercer o julgamento sobre o
mundo inteiro e aniquilar todos os malfeitores, reprimir toda carne pelas más
ações tão iniquamente perpetradas e pelas palavras arrogantes que os pecadores
insolentemente proferiram contra Ele.”
Judas
14
“E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois
de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos”.
Resumos
de algumas obras:
I
Enoque: Visões dadas em forma de sonhos, sobre o curso inteiro da historia,
desde o princípio até o fim.
Assunção
de Moisés: Supostamente apresenta as instruções finais de Moisés, antes de seu
corpo ser assunto ao céu. Expõe um quadro profético da história e do futuro de
Israel, começando pelos dias de Moisés e estendendo-se até o estabelecimento do
reino de Deus. Aparentemente o autor foi um Fariseu que aproveitou o ensejo
para protestar contra a secularização do seu grupo. Essa obra atualmente só é
conhecida em um fragmento latino, embora haja algumas alusões a mesma no NT,
Juda e II Pedro.
II
Enoque: Descreve como o patriarca Enoque subiu aos céus – dez céus – em vista
do que foi capacitado a deixar instruções espirituais aos seus filhos. Ensina
preexistência da alma, de acordo com ideias platônicas e neoplatônicas.
II
Baruque: Descreve o tempo da queda de Jerusalém em 596 a.C. Trata das misérias
e perseguições dos judeus, do pecado original do homem, da justiça divina e da
vinda do Messias e Seu reino messiânico.
III
Baruque: Descreve a mediação dos anjos. São dadas ideias adicionais sobre a
queda de Adão.
________________________
Referências bibliográficas
CHARLES R .H. The Old Apocrypha And Pseudepigrapha
Od The Old Testament in english. Volume 1. Edited in conjunction with many
scholars by 1ed oxford at the
clarendon press.
CHARLESWORTH, James H. The old testament
pseudepigrapha volume one apocaliptic literature and testaments. Duke
university, 1983
Dicionário
da Bíblia de Almeida
2ª ed.: APÓCRIFOS
Enciclopédia
de Bíblia, teologia e filosofia. Russel Norman Champlin
e João Marques Bentes. São Paulo: Candeia, 1995.
Reis,
Emílson dos. Introdução Geral a Bíblia: como a Bíblia foi escrita e chegou
até nós. São Paulo:
Privilégio Artes Gráficas, 2004.
Russell, D. S. The
old Testament Pseudepigrapha, Patriarchs and Prophets in Early Judaism. Phiadelphia:
Fortress Press.
SILVA, David. A de Introducing The Apocrypha. Message, context, and significance.
Foreword by James H.
TOGNINI,
Enéas. O período interbíblico. São Paulo, 1951.
Tratado
de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2011.