quinta-feira, 4 de junho de 2015

A parábola do rico e Lázaro

Ilustração

“Ora, havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e todos os dias se regalava esplendidamente.  Ao seu portão fora deitado um mendigo, chamado Lázaro, todo coberto de úlceras; o qual desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as úlceras.  Veio a morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado.  No hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe a Abraão, e a Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens, e Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu atormentado. E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem os de lá passar para nós.   Disse ele então: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,  porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham eles também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.  Respondeu ele: Não! pai Abraão; mas, se alguém dentre os mortos for ter com eles, hão de se arrepender. Abraão, porém, lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos”. (Lucas 16:23 - 31)

O novo tratamento diz muito pouco sobre o estado dos mortos durante o período entre o seu descanso e o despertar no dia dá ressurreição. A segunda parte da Bíblia está mais preocupada com os acontecimentos que marcam a transição entre esta era e a era futura: a volta de Cristo.
Em Lucas 16:23 a palavra "inferno" no grego é "Hades". Porque estou falando isso? Na concepção original, Hades é equivalente a palavra hebraica "seol", que significa sepultura.
Porém, na mitologia grega, Hades não significava o mundo dos mortos (a sepultura, estado insconsciente, mais profundo abismo) que é a ideia bíblica.
Para os gregos Hades era um submundo em que almas conscientes dos mortos se separavam em dois lugares: um lugar de tormento e outro de felicidade. Além de que, Hades era o deus do submundo dos mortos, logo, ficou esse o nome do "mundo inferior".
Essa concepção grega de Hades (inferno), influenciou os judeus helenisticos durante o período entre os dois testamentos (judeus influenciados pela globalização da cultura grega, quase como os EUA fazem hoje).
Nesse período, eles (judeus helenisticos) adotaram a crença na imortalidade da alma e a ideia de uma separação geográfica no submundo entre justos e injustos. A aceitação popular dessa situação hipotética se reflete na parábola do rico e Lázaro.
Na parábola, a palavra Hades (inferno) perdeu seu significado  referindo-se à sepultura, e passa então a referir-se ao inferno que os gregos criam, um lugar de castigo.
Alguns usam essa parábola para defender um estado intermediário, um estado de consciência da alma desencarnada (sem corpo).

Questões a serem levadas em conta:

- Detalhes de uma parábola não tem sentido literal a menos que o contexto indique.

- O ensino de uma parábola só pode ser empregado para definir doutrina se esse ensino for confirmado pelo conteúdo geral das escrituras.

- o ápice desta parábola é a lição do verso 31, onde é apresentada sua lição moral.
Contradições dentro da parábola:

- os que defendem a parábola como literal, consideram que o rico e o mendigo eram almas sem corpo. No entanto, a parábola descreve o homem rico como tendo olhos que veem e língua que busca alívio. Será que o corpo foi levado para o Hades por engano?

- um abismo separa Lázaro no céu (seio de Abraão) do rico no Hades. Abismo grande demais para atravessar porém pequeno para que pudessem conversar. O céu é o inferno estão em uma distância em que santos e pecadores possam conversar eternamente entre si? Uma visão dessa não destruiria a alegria e paz celestial? Imagine os salvos conversando com seus entes queridos perdidos no inferno por toda a eternidade separados por um abismo.

Conflito com verdades bíblicas:

- Se for literal, o rico e o mendigo receberam sua recompensa imediatamente após a morte antes do dia do juízo. A Bíblia ensina que seremos julgados antes de receber juízo ou imortalidade. (Mateus 25:31, Ap 22:12, 2 tim 4:8).

- Se for literal, contradiz o ensino Bíblico de que os mortos estão insconscientes (Ec 9:5 e 6; Jó 14:12-15; Sl 6:5)

- Se for literal, contradiz o sentido original da palavra "Hades" quando é empregada para designar a sepultura. Das 11 vezes que Hades aparece no NT, em 10 casos ela tem este sentido. O uso excepcional de Hades nessa parábola como lugar de tormento de fogo, não procede das escrituras, mas sim, das crenças judaicas influenciadas pela mitologia grega.

Conclusão

O historiador judaico, Flavio Josefo, defende o Hades na mesma concepção que aparece em Lucas. Revelando que, isso era uma crença popular.
Jesus aproveitou a concepção popular a respeito da condição dos mortos no Hades, não para defendê-la nem para refutá-la, mas para inculcar em  seus ouvintes a importância de dar atenção na vida presente aos ensinos de Moisés e dos profetas, uma vez que essa atitude determina a felicidade ou infelicidade no mundo futuro.

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Fontes:

BACCHIOCCHI, S. Crenças populares: o que as pessoas acreditam e o que a bíblia realmente diz. Tatuí - SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012.

SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. A Bíblia Sagrada. Revista e Atualizada no Brasil. 2° ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

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