Ilustração
“Ora, havia um homem rico que se vestia de púrpura e de
linho finíssimo, e todos os dias se regalava esplendidamente. Ao seu portão fora deitado um mendigo, chamado
Lázaro, todo coberto de úlceras; o qual desejava alimentar-se com as migalhas
que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as úlceras.
Veio a morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu
também o rico, e foi sepultado. No hades, ergueu os olhos, estando em
tormentos, e viu ao longe a Abraão, e a Lázaro no seu seio. E, clamando, disse:
Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água
a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse,
porém, Abraão: Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens, e
Lázaro de igual modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu
atormentado. E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo, de
sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem os de lá
passar para nós. Disse ele então:
Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, porque tenho cinco
irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham eles também para
este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Respondeu ele: Não! pai Abraão; mas, se alguém
dentre os mortos for ter com eles, hão de se arrepender. Abraão, porém, lhe
disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que
ressuscite alguém dentre os mortos”. (Lucas 16:23 - 31)
O
novo tratamento diz muito pouco sobre o estado dos mortos durante o período
entre o seu descanso e o despertar no dia dá ressurreição. A segunda parte da
Bíblia está mais preocupada com os acontecimentos que marcam a transição entre
esta era e a era futura: a volta de Cristo.
Em
Lucas 16:23 a palavra "inferno" no grego é "Hades". Porque
estou falando isso? Na concepção original, Hades é equivalente a palavra
hebraica "seol", que significa sepultura.
Porém,
na mitologia grega, Hades não significava o mundo dos mortos (a sepultura,
estado insconsciente, mais profundo abismo) que é a ideia bíblica.
Para
os gregos Hades era um submundo em que almas conscientes dos mortos se
separavam em dois lugares: um lugar de tormento e outro de felicidade.
Além de que, Hades era o deus do submundo dos mortos, logo, ficou esse o nome
do "mundo inferior".
Essa
concepção grega de Hades (inferno), influenciou os judeus helenisticos durante
o período entre os dois testamentos (judeus influenciados pela globalização da
cultura grega, quase como os EUA fazem hoje).
Nesse
período, eles (judeus helenisticos) adotaram a crença na imortalidade da alma e
a ideia de uma separação geográfica no submundo entre justos e injustos. A
aceitação popular dessa situação hipotética se reflete na parábola do rico e
Lázaro.
Na
parábola, a palavra Hades (inferno) perdeu seu significado referindo-se à sepultura, e passa então a
referir-se ao inferno que os gregos criam, um lugar de castigo.
Alguns
usam essa parábola para defender um estado intermediário, um estado de
consciência da alma desencarnada (sem corpo).
Questões a serem levadas em conta:
-
Detalhes de uma parábola não tem sentido literal a menos que o contexto
indique.
-
O ensino de uma parábola só pode ser empregado para definir doutrina se esse
ensino for confirmado pelo conteúdo geral das escrituras.
-
o ápice desta parábola é a lição do verso 31, onde é apresentada sua lição
moral.
Contradições dentro da parábola:
-
os que defendem a parábola como literal, consideram que o rico e o mendigo eram
almas sem corpo. No entanto, a parábola descreve o homem rico como tendo olhos
que veem e língua que busca alívio. Será que o corpo foi levado para o Hades
por engano?
-
um abismo separa Lázaro no céu (seio de Abraão) do rico no Hades. Abismo grande
demais para atravessar porém pequeno para que pudessem conversar. O céu é o
inferno estão em uma distância em que santos e pecadores possam conversar
eternamente entre si? Uma visão dessa não destruiria a alegria e paz celestial?
Imagine os salvos conversando com seus entes queridos perdidos no inferno por
toda a eternidade separados por um abismo.
Conflito com verdades bíblicas:
- Se for literal, o rico e o mendigo receberam sua recompensa imediatamente após
a morte antes do dia do juízo. A Bíblia ensina que seremos julgados antes de
receber juízo ou imortalidade. (Mateus 25:31, Ap 22:12, 2 tim 4:8).
- Se for literal, contradiz o ensino Bíblico de que os mortos estão
insconscientes (Ec 9:5 e 6; Jó 14:12-15; Sl 6:5)
- Se for literal, contradiz o sentido original da palavra "Hades"
quando é empregada para designar a sepultura. Das 11 vezes que Hades aparece no
NT, em 10 casos ela tem este sentido. O uso excepcional de Hades nessa parábola
como lugar de tormento de fogo, não procede das escrituras, mas sim, das
crenças judaicas influenciadas pela mitologia grega.
Conclusão
O
historiador judaico, Flavio Josefo, defende o Hades na mesma concepção que
aparece em Lucas. Revelando que, isso era uma crença popular.
Jesus
aproveitou a concepção popular a respeito da condição dos mortos no Hades, não
para defendê-la nem para refutá-la, mas para inculcar em seus ouvintes a importância de dar atenção na
vida presente aos ensinos de Moisés e dos profetas, uma vez que essa atitude
determina a felicidade ou infelicidade no mundo futuro.
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Fontes:
BACCHIOCCHI,
S. Crenças populares: o que as pessoas acreditam e o que a bíblia realmente
diz. Tatuí - SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012.
SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. A Bíblia Sagrada. Revista e
Atualizada no Brasil. 2° ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
1993.
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