terça-feira, 17 de junho de 2014

Aprofundando o conhecimento sobre o livro de Ester

Livro de Ester - O  Deus que protege os exilados


IDEIA PRINCIPAL DO LIVRO

“Como Deus cuidará da nação escolhida?”

TEMA

“A providência de Deus ao proteger o seu povo”.

Deus ainda (em relação a nação):

- Resgatará?
- Sustentará?
- Curará?

OUTRAS PERGUNTAS:

- Poderia Deus salvar o povo independente de onde eles estivessem?

- O Senhor ainda se interessa pela nação eleita, apesar de seus pecados terem sido a causa de perda da terra?

Livros relacionados com estas questões apresentadas em Ester (da relação contínua de Deus com Israel): Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

Ester inicia a discussão sobre “o Deus que protege os exilados”.

DATA E AUTORIA

- Ester é uma obra anônima cujos acontecimentos se dão aproximadamente entre 487-465 a.C.

- Nenhuma informação sobre sua autoria, data e público original pode ser recuperada com alguma certeza.

CURIOSIDADES

- A ambientação Persa chama a atenção dos leitores para o modo como os judeus exilados se acomodaram naquela terra.

- “Ester” e “Cantares” não mencionam Deus diretamente. Embora nao citado e trabalhando por trás dos acontecimentos, o Senhor e o personagem central do livro de Ester. 

SITUAÇÃO CANÔNICA

Nas últimas décadas, a integração desse livro no cânon foi examinada com algum detalhe.

   RAZÕES:

- Obra com natureza aparentemente secular;

- Única obra do AT não atestada nos manuscritos do mar Morto.

É CONSIDERADO ESCRITURA?

Roger Beckwith observa que: há uma tradução desse livro feita pela Septuaginta datado por volta de 114 a.C.

Flávio Josefo (70 d.C.)  relaciona o livro como pertencente às Escrituras.

Principais catálogos canônicos do AT incluem Ester.

 Conclusão: Parece correto concluir que o texto foi considerado como Escritura nos tempos antigos.

PROPÓSITO TEOLÓGICO

6 Ênfases:

I. Maioria dos intérpretes defende: Ênfase à instituição da festa do Purim. A nova celebração sublinha a convicção judaica de que Deus protege o povo escolhido de seus inimigos.

II. Gilis Gerleman afirma: O livro compara os eventos na Pérsia com o êxodo no Egito. Ênfase no modo como Deus se lembra do povo da aliança em situações extremas.

III. TheodorusC. Vriezen e J. Barton Payne sugerem: Ester ilustra o cuidado sábio e providencial de Deus para com Israel e a soberania divina sobre todas as nações. Vriezen e Payne admitem o caráter encoberto da teologia de Ester, mas apesar disto, percebem-na evidente. Asa Boyd e Barry Davis também consideram a providência divina como a ideia teológica principal de Ester, pois eles definem o Senhor como o “Deus por trás do visível”, alusão para a ausência de referências explícitas sobre Deus no livro.

IV. Robert Gordis: Ester trata fundamentalmente da preservação do povo judeu. Para ele: “É essencial para a visão de mundo judaica que a preservação do povo judeu seja em si mesma uma obrigação religiosa de primeira magnitude. Isso é verdade porque Israel tem sido o portador da palavra de Deus ao longo de toda a sua história , começando com a aliança do Sinai”. Para que a aliança abraâmica, do Sinai e davídica possam ser cumpridas, é preciso que o povo escolhido sobreviva.

V. Walter C. Kaiser acredita que: Ester contribui para a ideia do AT de que Israel porta a promessa da vinda do Reino de Deus. (Mais uma vez, a necessidade da sobrevivência de Israel é o ponto principal).

VI. Shemaryahu Talmon afirma que: Ester é um conto de sabedoria historizado, que encarna muitas das ideais principais encontradas na literatura sapiencial. Desse modo, o livro oferece conselhos sábios quase como os da historia de José.

2 OPINIÕES INTERESSANTES:

I. Lewis B. Paton escreve que: “O autor de Ester se deleita com o sucesso e triunfo de seus heróis e se esquece de suas faltas morais. Moralmente, Ester fica muito abaixo do nível geral do AT, e até mesmo dos apócrifos”.

II. Otto Eissfeldt considera o livro muito nacionalista e não merecedor de participação no cânon. (Concorda com Martinho Lutero)

OBSERVAÇÕES ACERCA DAS OPINIÕES INTERESSANTES:

Avaliações consideradas severas levando-se em consideração a posição de Ester no cânon. A situação histórica permitia escolhas muito limitadas aos judeus. Eles ou seus inimigos deveriam morrer. A alegria de Ester pela vitória é tão apropriada quanto a tristeza de Lamentações devido à derrota.

O equilíbrio canônico é evidente no caso, assim como na questão entre os escritos de sabedoria conservadores, de um lado, e os radicais, de outro. Ambos os pontos de vista são necessários para explorar a completa variedade de atividades divinas e de respostas humanas.

ESBOÇO GERAL DO LIVRO 

I. A coroação de Ester
   1. Vasti é destronada
   2. Ester é coroada

II. A condenação de Hamã
   3. A intriga de Hamã
   4. O discernimento de Mordecai
   5-7. A intercessão de Ester

III. A celebração de Israel
   8. Um novo decreto
   9. Uma defesa segura
 10. Uma grande distinção

ESQUEMA TEOLÓGICO DE ESTER

I. ESTER 1:1 a 4:17

 “Sugere que o Senhor permite que seu povo enfrente perigos no exílio. Qualquer possível proteção surge apenas depois de sérios problemas”.

Apresentação dos principais personagens, do enredo e de seu possível desfecho.

O PROPÓSITO DE DEUS PARA O EXÍLIO

Exílio “auto-imposto”. Idolatria=Exílio.

Homens fiéis sofrem junto com os transviados: Jeremias e Ezequiel.

No período de Ester, os exilados já estavam mortos a muito tempo. Os remanescentes do tempo dela não eram os responsáveis pela ruína em 587 a.C.

Não pode-se considerar a ameaça de Hamã como um castigo divino específico. A nação está sendo injustamente perseguida.

Situação semelhante a história de José, Êxodo. Em José Deus transforma o mal em benefício da preservação do remanescente. Em Êxodo, Israel clama por libertação, o Senhor responde com o chamamento de Moisés.

Líderes surgem dos mais incomuns lugares a fim de providenciar as soluções aos problemas de Israel em Gênesis, Êxodo e Ester.

Ilustra a bondade e determinação de Deus em manter as promessas abraâmicas.

II. ESTER 5:1 a 9:19

 “Conclui que Yahweh protege os exilados de Israel invertendo sua sorte. O ponto alto de Ester é o plano para a libertação, assim como aconteceu antes com o dilema de José, que, apesar de menos premente, era certamente mortal”.

 A sorte de Israel “muda” com a intercessão de Ester e a honestidade de Mardoqueu.

A ACEITAÇÃO DOS GENTIOS POR DEUS

 “Qualquer um que deseje se filiar ao povo da aliança é aceito em Êxodo e Ester, um fato que repercute a promessa de Deus de que todas as nações serão abençoadas em Abraão”.

III. ESTER 9:20 A 10:3

 “Sugere que o Senhor institui o Purim. A nova celebração garante que as lições aprendidas no exílio não serão esquecidas pelos futuros membros do remanescente. A libertação deve ser apreciada, recordada, declamada e reaplicada a cada nova geração. O Deus que protege os exilados deve continuar sendo o Deus de Israel, pois nenhuma outra divindade existe dentro ou fora da Terra Prometida. A validade de outros deuses nem mesmo é cogitada”.

SOBRE O PURIM

Toda vez que o Purim for celebrado, a nação estará confessando que Israel sobreviverá mesmo aos terrores do exílio.

Inimigos como faraó e Hamã surgirão, mas eles nunca eliminarão o povo de Deus.

Israel deve sobreviver para que todo o programa da teologia bíblica seja completado.

O Purim proporciona mais uma evidência de que o Senhor permanece na direção da história.

A data foi o décimo terceiro dia de Adar, que Hamã tinha designado para a aniquilação dos judeus e a confiscação de suas propriedades. Na luta que se seguiu, milhares de não-judeus foram mortos. Contudo, a paz foi logo restaurada e os judeus instituíram uma celebração anual para comemorar sua libertação. Purim foi o nome que se deu a este dia de festa, pois Hamã tinha determinado aquela data lançando sortes, ou Pur. (SCHULTZ, 2009, p. 128)

Desde seu princípio, o Purim tem sido uma das observâncias mais populares. Após jejuar o dia 13 de Adar, os judeus se reuniam na sinagoga na tarde, ao começar o dia 14, começando pela leitura pública do livro de Ester. Ao mencionar a Hamã, respondias ao uníssono "Que seu nome seja apagado". Na manhã seguinte, se reuniam para trocar presentes. (SCHULTZ, 2009, p. 129)

A referência a esta festa em 2 Mc 15.36 como o dia de Mardoqueo, indica que era observada no século II a.C. Nos dias de Josefo, o Purim era celebrado durante toda uma semana (Antiquities, XI, 6:13). (SCHULTZ, 2009, p. 127)

CONCLUSÃO

- A teologia de Ester é sutil. Ela participa no cânon na apresentação contínua das obras de Deus e de seus ensinamentos na história. É parte do “todo” teológico.

- Sua parte é testemunhar que os planos de Deus para Israel não podem ser contrariados pelos que odeiam os judeus. Ou, nenhum dos seus planos podem ser contrariados.

- Em Ester Deus é soberano sobre judeus e gentios. Da mesma forma ocorre no resto do cânon.


- Ester introduz a convicção que Deus ajudará Israel não importa por onde o povo tenha sido disperso demonstrando a forma generosa como Deus protege seu povo. 

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Referências bibliográficas

HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2005.

SCHULTZ, Samuel J. A história de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2009.

WIERSB, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo V.II - Histórico. Santo André: Geográfica, 2010.

ZUCK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

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