quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

História política do período intertestamentário e do Novo Testamento


Palestina

INTRODUÇÃO

Neste artigo, será passada em revista a história política da região Palestina do período que se inicia do final do Antigo Testamento até o início do Novo Testamento.
O objetivo será descrever e compreender o que é este período intertestamentário e fazer uma revisão dos principais acontecimentos históricos que o abrangeram: O retorno da Pérsia, o tempo dos Gregos (Ptolomeus e Seleucidas), tempo dos Macabeus (Hasmoneus) e o tempo Romano.
Estes focos históricos e políticos citados serão analisados somente naquilo em que se relacione com a trama da história bíblica, com isto, este artigo tem como objetivo auxiliar a compreensão do panorama bíblico do Novo Testamento.
Como fontes para estudar este período, serão utilizados os relatos da história em livros especializados nestas questões intertestamentárias. Outras fontes são os livros considerados apócrifos como o livro dos Macabeus, que descrevem a revolta macabéia e o caos na Palestina, e os escritos de Josefo, historiador do primeiro século da era cristã (PACKER, 2003).

O QUE É PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO?

A história do Antigo Testamento se encerrou com o cativeiro que a Assíria impôs ao reino do norte (Israel) por volta do século 8 a.C com destruição da capital, Samaria, em 722 a.C Junto a isto, ocorreu o subsequente cativeiro babilônico do reino do sul (Judá) por volta do século 6 a.C com destruição de Jerusalém em 586 a.C. e com o regresso à Palestina de parte dos exilados para reconstruir a nação, o templo e Jerusalém. Estes exilados vieram no início de 537 a.C e no ano de 444 a.C para reconstrução dos muros de Jerusalém sob liderança de Esdras e Neemias (PACKER, 2003).
Este período, chamado de Intertestamentário, é o tempo que se inicia com o fim do Antigo Testamento até o momento que se inicia o Novo Testamento, com o advento do Cristo. Em termos temporais, ele vai do século 4 a.C até século 1 d.C. O período entre os dois Testamentos é conhecido como os quatro séculos nos quais não existem registros de revelações proféticas consideradas canônicas, ou,  chamada também de “hiato profético” (GUNDRY, 1987) . O último escrito profético do Antigo Testamento é de Malaquias (PACKER, 2003).
Neste período de tempo, Israel voltava de seu cativeiro e reinicia sua busca de identidade e reconstrução como nação (BRIGHT, 1980). A questão é que sua busca de identidade e autonomia acabaram sendo influenciadas por potências militares, políticas e econômicas da época: os romanos e os gregos. Esta busca, foi sendo influenciada, também, por insurreições internas em busca de liberdade conhecida pelo nome de “Revolta dos Macabeus”.
Destes poderes que dominaram o povo judeu, vemos nos gregos e no seu programa de helenização os principais influenciadores na cultura, educação e filosofia do período intertestamentário. Os romanos, por sua vez, são os grandes atores da influência política que controlava as leis, o governo, o contexto econômico e as rédeas políticas que afetavam práticas culturais e religiosas (FERGUSON, 2003).
Nem sempre é claro o que aconteceu nos 400 anos decorridos entre o registro de Malaquias e o tempo em que Jesus nasceu. Sabemos que a nação restaurada de Israel passou por sérios transtornos políticos durante esse tempo (PACKER, 2002).
Depois do exílio babilônico, os judeus da Judeia viveram sob dominação estrangeira por quase quatro séculos. Soberanos persas, gregos e egípcios normalmente deixavam os judeus à vontade no tocante à prática religiosa. Os costumes e as tradições judaicas, centradas no Templo e no sumo sacerdote, eram respeitados. Assim, os judeus, em alguns aspectos, desfrutavam de uma autonomia limitada, geralmente tendo como representante oficial do povo o sumo sacerdote. O quadro muda com a chegada de Antíoco Epífanes, o rei sírio cujo reinado começa em 175 a.C (SKAURSANE, 2004, p. 15).

VOLTANDO DA PÉRSIA

A Babilônia caiu sob o domínio de Ciro e dos persas em 539 a.C, e Ciro imediatamente decretou que todos os refugiados podiam voltar para suas terras de origem (2 Crônicas 36:22; Esdras 1:1). O povo judeu levou quase um ano para voltar à sua terra natal e estabelecer-se para começar a segunda comunidade.
É interessante notar que o exílio terminou 70 anos depois que os babilônios sitiaram Judá em 606 a.C, conforme Deus havia predito (Jeremias 25:11). A construção do templo foi interrompida não muito tempo depois de iniciada.
 Recomeçou no segundo ano de Dario I, em 520 a.C. sob o ministério profético de Ageu e de Zacarias (Esdras 4:24; 5:1-2; Ageu 1:1-15; 2:1-9). Foi completada no sexto ano de Dario (Esdras 6:15), o que seria por volta de 516 a.C.
O fecho dos acontecimentos históricos do Antigo Testamento ocorreu no reinado de Artaxerxes I (464-423 a.C) com o Império Persa ainda no poder. Ciro havia permitido aos judeus voltar à terra para reconstruir o templo em 537 a.C. Ester, judia, havia ascendido à proeminência no palácio do rei persa em 470 a.C. Esdras em 456 a.C e Neemias em 443 a.C haviam voltado ao país e instituído reformas (PACKER, 2003).
 Esdras levou um contingente de judeus para Jerusalém no sétimo ano de Artaxerxes (Esdras 7:7-9), por volta de 458 a.C. Para ajudar a Esdras e ao grupo judaico, Neemias conseguiu a nomeação de governador da terra (PACKER, 2002).

O PERÍODO GREGO


Império Grego 

Durante o “hiato profético”, Alexandre o grande se tornou senhor do antigo oriente médio. Ao governo Persa segui-se a ascensão de Alexandre ao poder sobre um vasto império, incluindo a Palestina. Filipe da Macedônia, seu pai, havia estendido o governo sobre toda a Grécia e se preparava para uma grande guerra com a Pérsia, quando foi assassinado. Sucedeu-o seu filho Alexandre, então com apenas vinte anos de idade, e dentro de pouco tempo acabou com o poder da Pérsia (PACKER, 2003, p. 10).
Em 335 a.C, Alexandre deu início a seu reinado de doze anos. Depois de consolidar o governo em sua terra natal, ele rumou para o leste conquistando a Síria, a Palestina, o Egito e, finalmente, a própria Pérsia através das derrotas que impôs a eles: Batalha de Granico em 334 a.C; Batalha de Isso em 333 a.C e Batalha de Arbela em 331 a.C (GUNDRY, 1987).
Relacionado à história do povo judeu, segundo a tradição, Alexandre tratou os judeus favoravelmente, e eles lutaram em seu exército. Tanto o historiador Josefo como o Talmude judaico menciona este fato (PACKER, 2003).
A influência mais marcante dos gregos é encontrada na influência cultural, processo este chamado de “helenização”. Alexandre possuía ideias de unificar as culturas do mundo, talvez a primeira tentativa de globalização que acabou em certa medida dando certo.
A influência grega era muito forte, sendo a sua cultura considerada a dominante, pois era utilizada pelos conquistadores, governantes, exércitos e a elite comercial. A língua grega eram amplamente utilizada pelo mundo. A literatura dos gregos era utilizada como modelo para qualquer produção literária. Porém, dois fatores impediam sua ampla difusão: a religião grega não fora moldada para todo o império e a forma democrática de governo das polis não atendiam a demanda de povos que não tinham nenhuma tradição neste aspecto. Buscando atender estas demandas, a cultura grega, em razão de seu respeito também a tradições antigas, começou a se misturar com a cultura oriental formando o famoso helenismo (SKARUSANE, 2004).
A materialização deste conceito de helenismo eram as cidades chamadas de polis. Alexandre chegou a fundar 70 delas em seu império, algumas dentro da Palestina. Estas polis eram um posto missionário de propagação da cultura helenística.
Aplicando-se ao domínio grego com os judeus, esta helenização não era compatível às visões religiosas e outros aspectos tão distintivos da religião judaica. Por esta razão a forma de helenizar foi mais suave, ao invés de assimilar o judaísmo no helenismo, buscou-se conciliar o helenismo ao judaísmo – de acordo com a Torá.
Estas formas sutis de helenização tentavam não comprometer pontos vitais. O próprio aspecto helênico de “buscar influenciar” foi aderido também pelo judaísmo, que buscava fazer prosélitos - convertidos. Mas, devido às barreiras da língua e barreiras de assimilar rituais religiosos, não poderia ter ampla aceitação mundial. Para isso foi feita a tradução da Torá ao grego, a língua mundial (SKAURSANE, 2004).
Este período de helenização em Israel trouxe mudanças culturais e influências religiosas não populares entre os segmentos de judaísmo. Estas influências são perceptíveis: foi erigido um ginásio com pista de corridas adjacentes com os rapazes judeus se exercitando despidos, à moda grega. As competições eram inauguradas com invocações feitas às divindades pagãs. Sacerdotes judeus chegaram a participar de tais acontecimentos.  Outras influências sentidas foram as construções de teatros gregos, as vestes no estilo grego, cirurgia de remoção de marcas de circuncisão e mudança de nomes hebreus por gregos (GUNDRY, 1987).
  Seguindo em frente com a história política, apesar de ter sido um grande conquistador militar, Alexandre não viveu muito para desfrutar de suas vitórias. Tendo morrido em 323 a.C com apenas 33 anos, ninguém sucedeu a Alexandre. Seu império foi dividido em quatro partes por seus quatro generais, dois deles, Ptolomeu e Seleuco I, envolver-se-iam no governo da Palestina (GUNDRY, 1987).
Os Ptolomeus estavam centralizados no Egito, tendo Alexandria como capital. Sua hegemonia sobre os judeus se estendeu dos anos 320 a 198 a.C.. O nome “ptolomeus” vem de sua dinastia governante, que teve Cleópatra como o último membro da dinastia dos ptolomeus.
Já os Selêucidas, estavam centralizados na margem leste de Israel, tendo o império centralizado na Síria com Antioquia sendo sua capital. Os Ptolomeus governaram a palestina porque os Selêucidas apenas conseguiram conquistá-na em 198 a.C com a queda do império Ptolomeu no Egito conquistado por Antíoco III. A hegemonia selêucida sobre a palestina durou de 198 a 167 a.C., e seu império durou até o ano 64 a.C com a conquista da Síria pelos romanos através de Pompeu (GUNDRY, 1987).
No período de dominação dos Ptolomeus, é declarado que os judeus apesar da influência do helenismo atrapalhando sua identidade como “povo da Torá”, gozavam de boas condições gerais, pois Ptolomeu Sóter empregava judeus em várias partes do reino com alguns altos postos. Conforme a tradição também, sob Ptolomeu Filadelfio (285 - 246 a.C) 72 eruditos judeus fizeram a tradução do AT para o grego, chamada de Septuaginta. Este rei promovia as artes e desenvolvia o império em todos os aspectos (PACKER, 2003).
O início do período de dominação Selêucida sobre os Judeus não foi um dos melhores períodos para os judeus. A ascensão de Antíoco Epifânio marcou o início de uma das mais sombrias épocas da história judaica. Visto que os gregos desejavam helenizar os judeus, os velhos costumes hebreus e suas práticas religiosas foram desestimulados.
Estes conflitos são entendidos pela história. O rei Seleucida Antíoco IV ou chamado de Epifânio (175 a 163 a.C), substituiu o sumo sacerdote de Israel Onias III por seu irmão Jasom, que era considerado helenizante. Então, antes de invadir o Egito, Antíoco substitui Jasom por Menelau pela simples razão de Menelau ter oferecido um tributo mais elevado para a Síria, o que era a prática de Simonia (quem pagasse o tributo mais elevado levava o cargo religioso).
Tendo chegado rumores de que Antíoco teria sido morto em batalhas no Egito, Jasom retira Menelau do ofício. Antíoco, interpretou a atitude de Jasom como uma revolta. Por isto, decidiu reintegrar Menelau no ofício sacerdotal pela força. Seus soldados saquearam o templo e mataram muitos habitantes (GUNDRY, 1987).
Dois anos mais tarde, Antíoco envia o general Apolônio com 22 mil homens para: coletar tributos, tornar ilegal o judaísmo, estabelecer o paganismo a força, consolidar seu império e para refazer seu tesouro. Como resultado desta ação, Jerusalém foi saqueada, casas foram derrubadas, judeus foram mortos, mulheres e crianças foram escravizadas, tornou-se crime a circuncisão, guarda do sábado, celebração de festividades judaicas e possuir cópias do Antigo Testamento. Não bastando isto, os sacrifícios pagãos tornarem-se compulsórios, um altar pagão e uma estátua a Zeus foram erigidos no templo, animais imundos foram sacrificados no altar e a prostituição “sagrada” passou a ser praticada no recinto do templo (GUNDRY, 1987).
Pela história, percebe-se que Antíoco não tinha intenções de acabar com a adoração dos Judeus pelo seu Deus, nem substituí-la por outros deuses, mas, combinar religião grega com a religião judaica, fazendo com que ela se tornasse um veículo da política nacional. Suas sensibilidades, porém, não eram com o povo, e sim com seus próprios interesses, sendo que se precisasse saquear o templo, ele o faria. Acabou que o saqueou, demonstrando sua desconsideração e desrespeito. Estas ações contra a religião da nação provocavam a intransigência judaica. Vendo ele que a rebelião baseava-se na religião, buscou sufocá-la, proibindo-a (BRIGHT, 1980).
Percebemos com isto, apenas ações desastrosas. Que certamente levariam à instabilidade política e ao fim do domínio grego sobre a Palestina.

O PERÍODO DOS MACABEUS

A insurreição dos macabeus representava a autodefesa do judaísmo contra a “helenização” forçada, implementada por Antíoco. A revolta macabéia tornou explícita a incompatibilidade entre judaísmo e helenismo (SKARUSANE, 2004). Antíoco havia passado do limite aceitável: ele tocou na religião, o marco de identidade nacional (BRIGHT, 1980).
Diz a história que a revolta teve início com o ato de um oficial de Antíoco pedindo a Matatias para que oferecesse um sacrifício pagão. Neste episódio, Matatias se recusa a fazê-lo, mata um judeu que havia atendido ao pedido, mata o oficial que o instou, demole o altar pagão e foge para as montanhas com seus 5 filhos, acompanhados de simpatizantes.
Esta revolta teve início em 167 a.C, e como observamos anteriormente foi liderada pela família de Matatias. Sua dinastia chamada Hasmoneanos vem do nome do bisavô de Matatias, que se chamava Hasmom. O nome macabeus vem do apelido que fora conferido a Judas, um dos filhos de Matatias. O nome Macabeu significa martelo (GUNDRY, 1987).
Aos poucos cresceu o número dos que se puseram ao lado dos macabeus. Os sírios lançaram três campanhas contra esses fiéis judeus, uma pelo próprio Antíoco Epifânio; mas nenhuma teve êxito. Algum tempo depois morreu Epifânio e irrompeu a guerra civil. Três anos após o dia de sua profanação, o templo foi purificado e os sírios estabeleceram a paz com os judeus (PACKER, 2003).
Judas Macabeu encabeçava campanhas utilizando o método de guerrilha. Estas rebeliões resultaram na rededicação do Templo em 164 a.C. e no estabelecimento de um estado judaico parcialmente autônomo e reconhecido pelos sírios e, mais tarde, em um estado judeu independente, que perdurou até a conquista romana em 63 a.C. (SKARUSANE, 2004).
A questão é que, entre o período de independência e a conquista romana, houve problemas. Haviam disputas internas entre judeus pró-helenistas e os anti-helenistas. Embora presenteados com a oportunidade de restaurar Israel a uma posição de grande poder e influência, desperdiçaram-na com lutas entre famílias. A própria dinastia hasmoneana era permeada de contendas internas por ambição de poder; junto a isto, os Hasidim (puritanos) que dariam origem aos Fariseus e Essênios tinham propósitos diferentes dos Hasmoneus que dariam origem aos Saduceus (GUNDRY, 1987).
Judas Macabeu não gozou de paz por muito tempo. Judas morreu em combate e seu irmão Jônatas ficou em seu lugar. Por causa da fraqueza da Síria, Jônatas tornou-se o comandante da Judéia. Ao morrer, foi sucedido por outro irmão, Simão. (PACKER, 2003, p. 12 e 13)
O resultado deste levante foi o domínio da dinastia hasmoneana de 147 a 37 a.C. Este ato havia recuperado a liberdade religiosa, reconsagrado o templo, conquistado a Palestina e expulsado os Sírios que ocupavam Jerusalém (GUNDRY, 1987).

PERÍODO ROMANO

Império Romano

Um tempo depois da revolta dos Macabeus, o povo estava cansado de ser dominados pelos Hasmoneus, que não possuíam legitimidade de descendência para estarem no poder. Alguns líderes recorrem a Roma para que os dominassem, sabendo que os romanos possuíam uma política de tolerância com tradições religiosas. Acabou que Roma decidiu anexar a Palestina também ao seu império. No ano 63 a.C o general romano Pompeu toma Jerusalém.
Muito do que sabemos da conquista romana da Judéia provém da História das Guerras Judaicas, obra de Flávio Josefo (PACKER, 2003).
Acerca deste domínio dos romanos, Skaursane comenta

Ao que tudo indica, portanto, os judeus que favoreciam a dominação romana estavam basicamente certos: os romanos respeitavam as antigas instituições e tradições judaicas, e não tinham nenhuma intenção de interferir nas questões internas dos judeus. Isso se confirmou em grande medida, nos anos que se seguiram. Os romanos viam nos judeus aliados fiéis, e os judeus que viviam em cidades gregas fora de Israel desfrutavam muitas vezes de privilégios especiais que não eram concedidos a outros. Parecia portanto que, os judeus haviam encontrado um governo ideal enquanto aguardavam pela liberdade plena que o reino do Messias lhes traria (SKAURSANE, 2004, p. 44).

As coisas começaram a ficar ruins para os judeus quando a Herodes foi concedido por Roma o direito de governar a Palestina. Ele vivia sob o pavor de que um descendente dos macabeus subisse em poder para tomar-lhe o trono. Ele se tornou cada vez mais vingativo, e seus atos sangrentos provocaram a ira dos judeus. Para acalmar a hostilidade dos judeus, deu início a um programa de obras públicas. Seu principal empreendimento foi a reconstrução do templo. Mas com isso não terminaram os problemas de Herodes, nem da nação. Perto do fim da vida, esse governante, dominado pelo medo, ordenou o massacre dos infantes de Belém quando nasceu Jesus, o “rival” Rei dos judeus (PACKER, 2003).
Por este período antes e depois de Cristo, os romanos permaneceram como governantes supremos da Palestina. A família de Herodes, juntamente com os procuradores romanos nomeados, governava sob a autoridade de Roma.
Porém, por alguns desmandos da administração dos herdeiros de Herodes, a Judéia passou à dominação direta dos romanos no ano 6 d.C. Um dos governadores, foi Pôncio Pilatos, sendo o quinto procurador Romano da Palestina e também o mais conhecido por causa da crucifixão de Jesus. Governante inflexível e severo, ele foi brutal para os judeus. Seu massacre sem justificativa dos adoradores samaritanos e outras execuções causaram-lhe a queda em 36 d.C.
A Palestina continuou sob o domínio romano até que, no ano 70 d.C, foi destruída por Roma sob liderança de Tito. Nesta destruição cessou a adoração e os sacrifícios no templo, pois o próprio lugar para culto não mais existia, sem contar que, Adriano mandou erigir um templo a Júpiter no local do templo judeu. Como reação, alguns sobreviventes fizeram uma escola em Jamnia para estudos da Torá. Um tempo depois, os judeus se revoltam mais uma vez sob liderança de Bar Cochba que se auto aclamava como Messias. O resultado deste levante não foi positivo; os romanos o abafaram e reconstruíram Jerusalém como cidade romana, proibindo os judeus de entrarem. Desta forma, o estado judaico deixou de existir em 135 d.C, dando fim à história da nação eleita (GUNDRY, 1987).

CONCLUSÃO

Basicamente, ao observador comum é possível enxergar nestes movimentos da história um simples acaso. Mas não é isto que percebemos pela ótica da escritora Ellen White; para ela

A providência havia dirigido os movimentos das nações, e a onda do impulso e influência humanos, até que o mundo se achasse maduro para a vinda do libertador. As nações estavam unidas sob o mesmo governo. Falava-se vastamente uma língua, a qual era por toda parte reconhecida como a língua da literatura. Por essa época, os sistemas pagãos iam perdendo o domínio sobre o povo. Os homens estavam cansados de aparências e fábulas. Ansiavam uma religião capaz de satisfazer a alma (WHITE, 2004, p.32).

Por este prisma, percebemos que casa nação dominante teve sua contribuição para o estabelecimento dos propósitos de Deus para o mundo.
O império romano criou um ambiente político favorável para a propagação do cristianismo nos primórdios de sua existência. Os romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido da unidade da espécie sob uma lei universal; os piratas do mediterrâneo foram varridos e os soldados mantinham a paz nas estradas da Ásia, África e Europa, o que tornou mais fácil a movimentação; criaram um sistema de estradas que iam do marco áureo no fórum a todas as regiões do Império; os soldados levavam as ideias romanas pelo mundo antigo aonde eram designados; as conquistas do exército romano levavam os povos a falta de fé em seus deuses.
Já os gregos prepararam o caminho de forma intelectual e cultural. Como afirma Cairns:

A filosofia grega preparou o caminho para a vinda do cristianismo por ter levado à destruição as antigas religiões. Qualquer um que chegasse a conhecer seus princípios, fosse grego ou romano, logo perceberia que sua disciplina intelectual se tornou a religião tão ininteligível que a acabava abandonando em favor da filosofia. A filosofia falhou, porém, na satisfação das necessidades espirituais do homem, que se via obrigado então a tornar-se um cético ou a procurar conforto nas religiões de mistério do Império Romano. A filosofia apenas aspirava por Deus, fazendo dEle uma abstração; jamais revelava um Deus pessoal de amor. Este fracasso da filosofia tornou as mentes humanas prontas para entender uma apresentação mais espiritual da vida (CAIRNS, 1995, p. 32 e 33).

Sem contar que, assim como o inglês no mundo moderno e o latim no mundo medieval erudito, o grego tornou-se no mundo antigo, ao tempo em que o império romano apareceu, a língua universal (SKAURSANE, 2004). 
Hoje, a igreja possui a mesma esperança e “incumbência” que os judeus possuíam ao tempo do primeiro advento do Cristo, de preparar o caminho para o aparecimento do Senhor. Olhando para a história e aprendendo suas lições, percebe-se que da mesma forma que Deus operou no mundo para o preparo e máximo impacto da mensagem da primeira vinda do Messias, Ele opera hoje também preparando o mundo para o aparecimento de Seu Filho.
Notoriamente, encontramos as mesmas características que precederam ao primeiro advento. É possível perceber uma estabilidade política, uma relativa paz global, um idioma universal, um mundo que é muito fácil se locomover para qualquer lugar, potentes meios de comunicação que nos permitem estarmos conectados praticamente aonde estivermos. Tudo isso nos mostra que Deus, prepara o mundo para que suas boas novas de salvação sejam levadas até os confins da terra. Conforme registrou o evangelista Mateus: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mt 24:14).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRIGHT, J. História de Israel. 5. ed. São Paulo - SP: Paulus, 1980.

CAIRNS, E. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. 2. ed. São Paulo - SP: Vida Nova, 1995.

FERGUSON, E. Backgrounds of early christianity. 3. ed. Grand Rapids - EUA: William B. Eerdmans Publishing Company, 2003.

GUNDRY, R. H. Panorama do Novo Testamento. Tradução de João Marques Bentes. 4. ed. São Paulo - SP: Vida Nova, 1987.

PACKER, J.I.; TENNEY, M. G.; WHITE, W.J. O Mundo do Novo Testamento. 1. ed. São Paulo - SP: Vida , 2003.

PACKER, J.I.; TENNEY, M. G.; WHITE, W.J. O Mundo do Antigo Testamento. São Paulo - SP: Vida , 2002.

SKARSAUNE, O. À Sombra do templo: as influências do judaísmo no cristianismo primitivo. 1. ed. São Paulo - SP: Vida , 2004.

WHITE, E. O desejado de todas as nações. 22 ed. Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004.


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