segunda-feira, 19 de maio de 2014

A história da interpretação bíblica


A hermenêutica tem como função descobrir o que o texto está realmente dizendo, para tanto, são definidas algumas regras para a sua correta interpretação. ¹Pode-se dizer também que ela diminui a distância entre o autor e o leitor. Por causa da necessidade de sensibilidade ao escolher qual conjunto de regras utilizar, ela pode ser considerada também como uma arte, pois, se a interpretação for realizada de forma mecânica pode se tornar um desastre. Tendo tudo isso em mente, podemos concluir então que a hermenêutica é a ciência e a arte de interpretar.  
Após esta breve introdução, vamos discorrer neste texto sobre os diferentes períodos da história em que a bíblia era interpretada sob regras e contextos diferentes. Entre os períodos, iremos destacar as interpretações: Judaica, Alexandrina, de Antioquia, Medieval e por fim o período da Reforma.

Princípios Hermenêuticos da escola Judaica

²Quando os Judeus retornaram do exílio na Babilônia, tudo indica que falavam aramaico, e não hebraico. Consequentemente, quando Esdras, o escriba, leu a lei, os levitas tiveram de traduzir do hebraico para o aramaico. Desde Esdras até Cristo, os escribas não só ensinavam as escrituras, mas também a copiavam. Eles tinham grande reverência pelos textos do Antigo Testamento, mas essa veneração logo caiu no exagero, chegando ao pensamento que cada monossílabo do texto bíblico tinha vários significados.
³Durante o primeiro século da era cristã os intérpretes judaicos concordaram em que a escritura representavam as palavras de Deus, e que essas palavras estão cheias de significado para os crentes. Empregou-se a interpretação literal nas áreas de interesses práticos e judiciais.

Princípios Hermenêuticos da escola Alexandrina

³Esta escola surgiu por volta de 200 anos depois de Cristo. Esta escola Judaica caracterizava-se pelo método de alegorização, que é procurar um sentido oculto ou obscuro que se acha por trás do significado mais evidente do texto, mas lhe está distante e na verdade dissociado. Em outras palavras, o sentido literal é uma espécie de código que precisa ser decifrado para revelar o sentido mais importante e oculto. Chegando a uma inevitável conclusão: o literal é superficial, e o alegórico é que representa o verdadeiro significado.
Também visavam evitar os antropomorfismos de Deus.  Os principais pais alexandrinos são: Panteno que foi professor de Clemente, Clemente que ensinava que toda as escrituras utilizavam uma linguagem simbólica misteriosa, Orígenes que desconsiderava o sentido literal e normal chegando a um exagero incomum de alegorias.

Princípios Hermenêuticos da escola de Antioquia

³Ao perceberem o crescente abandono literal pelos alexandrinos e o letrismo dos Judeus, vários líderes da igreja de Antioquia elaboraram a interpretação histórica-gramatical, isto é, que um texto deve ser interpretado segundo as regras da gramática e os fatos da história. Criticando os alegoristas por lançarem dúvidas na historicidade de muita coisa no Antigo Testamento.
Diferentemente dos alegoristas, eles criam que o significado espiritual de um acontecimento histórico estava implícito no próprio acontecimento. ²Eles incentivavam o estudo das línguas bíblicas originais e redigiram comentários sobre as escrituras.
O elo entre o antigo e o novo testamento era a tipologia e as profecias ao invés da alegorização. Luciano foi o fundador da escola de Antioquia. Os princípios exegéticos da escola de Antioquia lançaram a base da hermenêutica evangélica moderna.

 Princípios Hermenêuticos do período Medieval

³O período medieval pode ser considerado como um deserto no quesito interpretação bíblica, pois não houve concepções novas e criativas acerca das escrituras. A tradição da igreja ocupava lugar de relevo, juntamente com a alegorização das escrituras. ²O sentido quádruplo desenvolvido por Agostinho era a norma para a interpretação. Durante esse período, aceitou-se geralmente o princípio de qualquer interpretação de um texto bíblico devia adaptar-se a tradição da doutrina da igreja. Mas, embora prevalecesse o método quádruplo, outros tipos de exegese se desenvolviam trazendo de volta o misticismo judaico levando o letrismo ao ridículo. Alguns grupos porém, levavam em voga um método mais científico de interpretação, incentivando o método de interpretação histórico-gramático. Um dos homens de destaque deste período foi Nicolau de Lyra que foi o elo entre as trevas daquela era e a luz da reforma, pois causara significativo impacto para a interpretação literal. Dizem que sua influencia foi um dos fatores desencadeadores da reforma através de Lutero.

Princípios Hermenêuticos do período da Reforma

¹A renascença foi um período de luz intelectual, mas não somente cientificamente, a área da interpretação bíblica também iria evoluir. Foram desenvolvidos sadios princípios hermenêuticos. A idade media foi um período de trevas, quando os doutores de teologia não haviam lido a bíblia inteira. Aquela maneira de interpretar a bíblia pelo quádruplo sentido foi sendo substituída pelo princípio que a bíblia possui apenas um sentido. Os reformadores consideravam a bíblia a mais alta autoridade, sendo a última palavra em questões teológicas. Contra a infalibilidade da igreja foi colocada a infalibilidade das escrituras. A igreja não determina as escrituras, mas as escrituras determinam a igreja. Seus princípios fundamentais podem ser divididos em dois principais: A escritura é interprete da escritura e que toda compreensão e exposição da escritura seja de acordo com a analogia da fé. Os grandes nomes deste período foram: Reuchlin, Erasmo, Lutero, Melanchthon e Calvino.
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¹BERKHOF, Luis. Principles of Biblical Interpretation. Michigan, U.S.: Baker Book House, 1967.   
   
²VIRKLER. Hermenêutica avançada.

³ZUCK, Roy B. A interpretação Bíblica: Meios de descobrir a verdade da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.              

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