terça-feira, 17 de junho de 2014

Aprofundando o conhecimento sobre o livro de Ester

Livro de Ester - O  Deus que protege os exilados


IDEIA PRINCIPAL DO LIVRO

“Como Deus cuidará da nação escolhida?”

TEMA

“A providência de Deus ao proteger o seu povo”.

Deus ainda (em relação a nação):

- Resgatará?
- Sustentará?
- Curará?

OUTRAS PERGUNTAS:

- Poderia Deus salvar o povo independente de onde eles estivessem?

- O Senhor ainda se interessa pela nação eleita, apesar de seus pecados terem sido a causa de perda da terra?

Livros relacionados com estas questões apresentadas em Ester (da relação contínua de Deus com Israel): Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

Ester inicia a discussão sobre “o Deus que protege os exilados”.

DATA E AUTORIA

- Ester é uma obra anônima cujos acontecimentos se dão aproximadamente entre 487-465 a.C.

- Nenhuma informação sobre sua autoria, data e público original pode ser recuperada com alguma certeza.

CURIOSIDADES

- A ambientação Persa chama a atenção dos leitores para o modo como os judeus exilados se acomodaram naquela terra.

- “Ester” e “Cantares” não mencionam Deus diretamente. Embora nao citado e trabalhando por trás dos acontecimentos, o Senhor e o personagem central do livro de Ester. 

SITUAÇÃO CANÔNICA

Nas últimas décadas, a integração desse livro no cânon foi examinada com algum detalhe.

   RAZÕES:

- Obra com natureza aparentemente secular;

- Única obra do AT não atestada nos manuscritos do mar Morto.

É CONSIDERADO ESCRITURA?

Roger Beckwith observa que: há uma tradução desse livro feita pela Septuaginta datado por volta de 114 a.C.

Flávio Josefo (70 d.C.)  relaciona o livro como pertencente às Escrituras.

Principais catálogos canônicos do AT incluem Ester.

 Conclusão: Parece correto concluir que o texto foi considerado como Escritura nos tempos antigos.

PROPÓSITO TEOLÓGICO

6 Ênfases:

I. Maioria dos intérpretes defende: Ênfase à instituição da festa do Purim. A nova celebração sublinha a convicção judaica de que Deus protege o povo escolhido de seus inimigos.

II. Gilis Gerleman afirma: O livro compara os eventos na Pérsia com o êxodo no Egito. Ênfase no modo como Deus se lembra do povo da aliança em situações extremas.

III. TheodorusC. Vriezen e J. Barton Payne sugerem: Ester ilustra o cuidado sábio e providencial de Deus para com Israel e a soberania divina sobre todas as nações. Vriezen e Payne admitem o caráter encoberto da teologia de Ester, mas apesar disto, percebem-na evidente. Asa Boyd e Barry Davis também consideram a providência divina como a ideia teológica principal de Ester, pois eles definem o Senhor como o “Deus por trás do visível”, alusão para a ausência de referências explícitas sobre Deus no livro.

IV. Robert Gordis: Ester trata fundamentalmente da preservação do povo judeu. Para ele: “É essencial para a visão de mundo judaica que a preservação do povo judeu seja em si mesma uma obrigação religiosa de primeira magnitude. Isso é verdade porque Israel tem sido o portador da palavra de Deus ao longo de toda a sua história , começando com a aliança do Sinai”. Para que a aliança abraâmica, do Sinai e davídica possam ser cumpridas, é preciso que o povo escolhido sobreviva.

V. Walter C. Kaiser acredita que: Ester contribui para a ideia do AT de que Israel porta a promessa da vinda do Reino de Deus. (Mais uma vez, a necessidade da sobrevivência de Israel é o ponto principal).

VI. Shemaryahu Talmon afirma que: Ester é um conto de sabedoria historizado, que encarna muitas das ideais principais encontradas na literatura sapiencial. Desse modo, o livro oferece conselhos sábios quase como os da historia de José.

2 OPINIÕES INTERESSANTES:

I. Lewis B. Paton escreve que: “O autor de Ester se deleita com o sucesso e triunfo de seus heróis e se esquece de suas faltas morais. Moralmente, Ester fica muito abaixo do nível geral do AT, e até mesmo dos apócrifos”.

II. Otto Eissfeldt considera o livro muito nacionalista e não merecedor de participação no cânon. (Concorda com Martinho Lutero)

OBSERVAÇÕES ACERCA DAS OPINIÕES INTERESSANTES:

Avaliações consideradas severas levando-se em consideração a posição de Ester no cânon. A situação histórica permitia escolhas muito limitadas aos judeus. Eles ou seus inimigos deveriam morrer. A alegria de Ester pela vitória é tão apropriada quanto a tristeza de Lamentações devido à derrota.

O equilíbrio canônico é evidente no caso, assim como na questão entre os escritos de sabedoria conservadores, de um lado, e os radicais, de outro. Ambos os pontos de vista são necessários para explorar a completa variedade de atividades divinas e de respostas humanas.

ESBOÇO GERAL DO LIVRO 

I. A coroação de Ester
   1. Vasti é destronada
   2. Ester é coroada

II. A condenação de Hamã
   3. A intriga de Hamã
   4. O discernimento de Mordecai
   5-7. A intercessão de Ester

III. A celebração de Israel
   8. Um novo decreto
   9. Uma defesa segura
 10. Uma grande distinção

ESQUEMA TEOLÓGICO DE ESTER

I. ESTER 1:1 a 4:17

 “Sugere que o Senhor permite que seu povo enfrente perigos no exílio. Qualquer possível proteção surge apenas depois de sérios problemas”.

Apresentação dos principais personagens, do enredo e de seu possível desfecho.

O PROPÓSITO DE DEUS PARA O EXÍLIO

Exílio “auto-imposto”. Idolatria=Exílio.

Homens fiéis sofrem junto com os transviados: Jeremias e Ezequiel.

No período de Ester, os exilados já estavam mortos a muito tempo. Os remanescentes do tempo dela não eram os responsáveis pela ruína em 587 a.C.

Não pode-se considerar a ameaça de Hamã como um castigo divino específico. A nação está sendo injustamente perseguida.

Situação semelhante a história de José, Êxodo. Em José Deus transforma o mal em benefício da preservação do remanescente. Em Êxodo, Israel clama por libertação, o Senhor responde com o chamamento de Moisés.

Líderes surgem dos mais incomuns lugares a fim de providenciar as soluções aos problemas de Israel em Gênesis, Êxodo e Ester.

Ilustra a bondade e determinação de Deus em manter as promessas abraâmicas.

II. ESTER 5:1 a 9:19

 “Conclui que Yahweh protege os exilados de Israel invertendo sua sorte. O ponto alto de Ester é o plano para a libertação, assim como aconteceu antes com o dilema de José, que, apesar de menos premente, era certamente mortal”.

 A sorte de Israel “muda” com a intercessão de Ester e a honestidade de Mardoqueu.

A ACEITAÇÃO DOS GENTIOS POR DEUS

 “Qualquer um que deseje se filiar ao povo da aliança é aceito em Êxodo e Ester, um fato que repercute a promessa de Deus de que todas as nações serão abençoadas em Abraão”.

III. ESTER 9:20 A 10:3

 “Sugere que o Senhor institui o Purim. A nova celebração garante que as lições aprendidas no exílio não serão esquecidas pelos futuros membros do remanescente. A libertação deve ser apreciada, recordada, declamada e reaplicada a cada nova geração. O Deus que protege os exilados deve continuar sendo o Deus de Israel, pois nenhuma outra divindade existe dentro ou fora da Terra Prometida. A validade de outros deuses nem mesmo é cogitada”.

SOBRE O PURIM

Toda vez que o Purim for celebrado, a nação estará confessando que Israel sobreviverá mesmo aos terrores do exílio.

Inimigos como faraó e Hamã surgirão, mas eles nunca eliminarão o povo de Deus.

Israel deve sobreviver para que todo o programa da teologia bíblica seja completado.

O Purim proporciona mais uma evidência de que o Senhor permanece na direção da história.

A data foi o décimo terceiro dia de Adar, que Hamã tinha designado para a aniquilação dos judeus e a confiscação de suas propriedades. Na luta que se seguiu, milhares de não-judeus foram mortos. Contudo, a paz foi logo restaurada e os judeus instituíram uma celebração anual para comemorar sua libertação. Purim foi o nome que se deu a este dia de festa, pois Hamã tinha determinado aquela data lançando sortes, ou Pur. (SCHULTZ, 2009, p. 128)

Desde seu princípio, o Purim tem sido uma das observâncias mais populares. Após jejuar o dia 13 de Adar, os judeus se reuniam na sinagoga na tarde, ao começar o dia 14, começando pela leitura pública do livro de Ester. Ao mencionar a Hamã, respondias ao uníssono "Que seu nome seja apagado". Na manhã seguinte, se reuniam para trocar presentes. (SCHULTZ, 2009, p. 129)

A referência a esta festa em 2 Mc 15.36 como o dia de Mardoqueo, indica que era observada no século II a.C. Nos dias de Josefo, o Purim era celebrado durante toda uma semana (Antiquities, XI, 6:13). (SCHULTZ, 2009, p. 127)

CONCLUSÃO

- A teologia de Ester é sutil. Ela participa no cânon na apresentação contínua das obras de Deus e de seus ensinamentos na história. É parte do “todo” teológico.

- Sua parte é testemunhar que os planos de Deus para Israel não podem ser contrariados pelos que odeiam os judeus. Ou, nenhum dos seus planos podem ser contrariados.

- Em Ester Deus é soberano sobre judeus e gentios. Da mesma forma ocorre no resto do cânon.


- Ester introduz a convicção que Deus ajudará Israel não importa por onde o povo tenha sido disperso demonstrando a forma generosa como Deus protege seu povo. 

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Referências bibliográficas

HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2005.

SCHULTZ, Samuel J. A história de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2009.

WIERSB, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo V.II - Histórico. Santo André: Geográfica, 2010.

ZUCK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

Compreendendo melhor o cânon: livros apócrifos e pseudoepígrafos - um breve estudo.

Artigo produzido em co-autoria com Osmário Francisco Xavier Junior.


LIVROS APÓCRIFOS
DEFINIÇÂO

O termo "apócrifo" foi criado por Jerônimo, no quinto século, para designar basicamente antigos documentos judaicos escritos no período entre o último livro das escrituras judaicas, Malaquias e a vinda de Jesus Cristo. São também considerados apócrifos os livros que não fazem parte do cânon da religião que se professa. A palavra em si mesmo significa “coisas escondidas”.

CONCEITOS

Para muitas pessoas, particularmente cristãos protestantes, os apócrifos são uma coleção de livros proibidos ou heréticos que devem ser evitados.
Católicos e cristãos ortodoxos não se refeririam a estes livros como apócrifos. Ao invés o termo Deutero-canonico(“deuterocanônicos”, isto é: livros do “segundo cânon) é usado para distinguir esta coleção suplementar de trabalhos “canônicos” do protocanonicos livros do AT. Católicos e cristãos ortodoxos tendem a usar a palavra apócrifos para pseudo-epigrafes
Longe de ser uma ameaça a fé, o apócrifo do AT são uma testemunha vital, especialmente a fé do povo judeu que viveu no período entre o terceiro século A.C e o primeiro século D.C.                                
Tinha mais importância para os judeus da diáspora que os da palestina, apesar de alguns poucos livros que se originaram na palestina continuaram a ser lidos ou citados (como Bem Sira), ou contado sua história (como Judite e 1,2 Macabeus) bem no período rabínico apesar de seu status “não canônico”. Pag. 16
A medida de sua utilidade é atestada também em sua inclusão no principal manuscrito de tradução grega do AT ( chamado de septuaginta LXX) pag. 17

ORIGEM, CONTEÚDO, DATA E AUTORIA

Os diferentes escritos vieram da palestina, Alexandria (Egito), Antioquia (Siria), e possivelmente mesmo da pérsia( Da ampla comunidade judaica que estabeleceu-se  e permaneceu em Babilônia depois da deportação de Nabucodonosor) alguns foram escritos em Gregos outros em hebraico e aramaico. Eles são uma testemunha vital  para a fé, especialmente a fé do povo judeu que viveu no período entre o terceiro século AC e 1 século DC.

Eles contêm o testemunho da fé judaica que buscava viver sua lealdade a Deus em um mundo muito conturbado. Difícil identificar um tema único, mas a maior preocupação de muitos destes textos envolvem como os judeus respondem ao helenismo e de perseverar como uma cultura minoritária em um mundo grego. São questões que continuamos a enfrentar: Quais desafios ameaçam o compromisso do contemporâneo povo de Deus, e como encontrar uma resposta de fé a Deus em nosso mundo?  

Conteúdo: Eles contem informações sobre o período formativo do judaísmo dentro do qual a igreja primitiva cresceu: Nos dias de Jerônimo passou a significar literatura falsa e até hoje permaneceu. Uma boa maioria aponta para o Eclesiástico em 190 AC  como o primeiro, e dai existem muitas hipóteses chegando-se a extremos de umas afirmando terem aparecido os primeiros livros 300 anos antes de Cristo e outras colocando-os até três séculos depois de Cristo. Lislie E. fuller coloca grande parte dos apócrifos entre 100AC e 130DC.

Se a cronologia é quase insolúvel  não menos o é a data onde foram produzidos. Os estudiosos da matéria não chegam a um acordo e para cada livro são apontadas dezenas de lugares possíveis onde foram escritos.

A autoria também é muito incerta, a maioria reconhece, por exemplo, que  macabeus não foram escritos por nenhum membro dessa histórica família.eles também foram adotados com nomes de efeito  por questão de prestigio pessoal. A igreja católica resolve o problema valendo-se da autoridade: Assim para ela “acréscimo a Ester” foram escrito por mardoqueu, “acréscimo” a Daniel por Daniel,  Sabedoria por Salomão.

PAIS DA IGREJA E OS APÓCRIFOS

Pais gregos como Orígenes e clemente que usavam a bíblia grega que continham estes livros, freqüentemente citavam eles como escrituras, divina escritura, inspirados ou algo semelhante. Mais tarde os pais da igreja rejeitaram de varias formas este conceito de Canon, mas foi aceito e mantido no ocidente por St. Agostinho. Onde havia uma diferença entre a a grega e a hebraica Agostinho sustentava que a diferença era devido a inspiração divina, e que esta diferença era pra ser considerada como um sinal que estas passagens em questão, uma alegórica- não literal- interpretação deveria ser buscada.

Concílios da igreja primitiva aceitaram os apócrifos: Roma (382), Hipona (393) e Cartago (397).
Apesar do católico romano ter 11 obras de literatura a mais que a versão protestante, apenas 7 livros a mais, ou um total de 46, aparecem no índice (o AT judeu e o protestante têm 39). Como se vê na tabela seguinte, outras 4 peças de literatura estão incorporadas a Ester e Daniel.

Por outro lado professores conectados com Palestina e familiares com o Canon hebraico, como os africanos e Jerome, declararam que todos os livros de fora do Canon hebraico como apócrifos.

Jerônimo (320-420), que traduziu a Vulgata que é usada pela Igreja Católica Romana, rejeitou os livros apócrifos, uma vez que ele acreditava que os judeus reconheceram e estabeleceram o canon correto do Velho Testamento. Lembre-se, a Igreja Cristã construiu muito em cima desse reconhecimento. Além disso, Josefo (o famoso historiador judaico do primeiro século) também nunca mencionou os apócrifos como sendo parte do Canon.

“Em uma grossa simplificação se não fosse por Agostinho estes livros poderiam ter se perdido pra a igreja e se não fosse por Jerônimo nós poderíamos nunca distingui-los como coleções separadas do antigo testamento”. (David A de Silva” Introducing the apocrypha)

POSIÇÃO DO CONCÍLIO DE TRENTO E LUTERO

O concilio de Trento(1545-1563): Se alguém não receber, como sagrado e canônico, todos os livros ditos com todas as suas partes, como eles tem sido lidos na igreja católica, e como eles estão contidos nas antiga vulgata latina… que sejam anátemas. 

Concílios da igreja primitiva aceitaram os apócrifos: Roma (382), Hipona (393) e Cartago (397) pronunciamento [do Concílio] de Trento sobre os apócrifos foi parte de uma ação polêmica contra Lutero. Seus defensores consideravam que a aceitação dos apócrifos como inspirados era necessária para justificar ensinamentos que Lutero havia atacado, principalmente as orações pelos mortos. 

Lutero influenciado pelo impulso humanista de volta às fontes (ad fontes) e pretextando a “veritas hebraicas”, estabeleceu o Canon hebraico como normativa e colocou os “libri ecclesiastici” de Jerônimo em apêndice, sob a seguinte denominação: apócrifos, isto é, livros que não podem ser equiparados às Sagradas Escrituras, mas cuja leitura é boa e proveitosa.

ALGUNS LIVROS APÓCRIFOS

  1 Esdras (150 e 50 A.C)
  1 e 2 Macabeus (104 A.C)
  Sabedoria de Bem Sira (195 e 124 A.C)
  Sabedoria de Salomão (150 e 50 ou 120 e 80, A.C)

1 Esdras: entre 150 e 50 AC, reconta os eventos presentes em Esdras e Neemias, que fala do retorno dos judeus exilados em babilônia e do restabelecimento do templo de Jerusalém.

1 e 2 Macabeus: Contam a história da tentativa em 175AC a 167 AC de dissolver a identidade judaica e fazer a população da Judéia “como as nações” através da helenização e a bem sucedida resistência liderada por Judas Macabeus e seus irmãos.

Sabedoria de Bem Sira (também chamada de Sirach ou Eclesiasticus) é Uma comprida coleção de instruções de de um sábio de Jerusalém do inicio do 2º século antes de Cristo poucas décadas antes da crise de helenização em que levou a revolta macabéia.

Sabedoria de Salomão é produto da Diáspora judaica na Grécia, mostra um contato intimo com o pensamento grego mas sem o desejo de abrir mão dos valores judeus.  Este livro é um tratado de Ética recomendando a sabedoria e a retidão, e condenando a Iniqüidade e a idolatria.Talvez judeu egipcio( não são coleções de curtas citações, mas argumentos muito mais desenvolvidos e instruções).

LIVROS APÓCRIFOS X LIVROS DO CANON HEBRAICO

Contradições:

1. Ensino da Arte Mágica – Tobias 6:5-8. Refutação bíblica: Marcos 16:17; Atos 16:18

2. Dar Esmolas Purifica do Pecado – Tobias 12: 8 e 9; Eclesiástico 3:33. Refutação bíblica: 1 Pedro 1:18 e 19; Judas 24

3. Orações pelos Mortos – 2 Macabeus 12: 42-45. Refutação bíblica: Atos 2:34; Isaías 38:18; Lucas 16:26; Isaías 8:20.

Ensino do Purgatório – Sabedoria 3:1-4 (imortalidade da alma.

O Anjo Relata uma Falsidade – Tobias 5: 1-19.

Uma Mulher Jejuando toda Sua Vida – Judith 8: 5 e 6.

A Imaculada Conceição – Sabedoria 8:19 e 20.

 Pecados Perdoados pela Oração – Eclesiástico 3:4

Ensinos da Crueldade e do Egoísmo – Eclesiástico 12:6

Encantamentos Tobias 6:5-8 coração de peixe sobre brasas

Se, por um lado, os apócrifos não possuem a verdadeira doutrina de Cristo e de sua Igreja, por outro lado têm grande valor histórico pois demonstram as correntes ideológicas (religiosas e morais) do período em que foram escrito. Eles contem informações sobre o período formativo do judaísmo dentro do qual a igreja primitiva cresceu.

LIVROS PSEUDOEPÍGRAFOS

DEFINIÇÃO

Além dos Apócrifos, existem outros livros que não são considerados inspirados, os quais os evangélicos chamam de PSEUDEPÍGRAFOS, e os católicos, de “apócrifos”.

São definidos como: Escritos judaicos pseudônimos ou anônimos.

Essa palavra portuguesa vem do grego, pseudepigraphos, que significa “escrito falso” ou “escrito espúrio”. O termo é usado para aludir, especificamente, à ideia de “falsa autoria”. Em outras palavras, os livros assim chamados não foram escritos pelos autores aos quais são atribuídos. Exemplos: Enoque não foi escrito por Enoque, Apocalipse de Abraão não foi escrito por Abraão.

Era costume na antiguidade atribuir um livro qualquer a alguma pessoa antiga e bem conhecida. Isso sucedia em campo religioso e secular. Os motivos variavam: desejo de uma melhor distribuição de uma obra recente, honrar o nome usado, promover as ideias e tradições dos alegados autores.

Utilizado à bíblia, o termo pseudoepígrafos refere-se usualmente ao Antigo Testamento, os do Novo Testamento são chamados de “Apócrifos”. Os livros pseudoepígrafos do AT são uma coletânea separada dos livros Apócrifos, separados também do Canon palestino e Alexandrino do AT.

Apesar de não estarem incluídos em nenhum Cânon, eles alcançaram considerável prestígio, tendo influenciado as ideias do judaísmo helenista, e daí sobre certas ideias do NT.

A expressão pseudepígrafo, no contexto do início do Judaísmo, poderia ser utilizado para se referir para um corpo de diversos escritos de tradições judias ou judeu-cristãs que: 

A) não estão incluídos no AT ou NT, apócrifos e entre a literatura rabínica;

B) estão associados com livros bíblicos ou personagens bíblicos;

C) são mais frequentes do que não escritos  em nome dos dignos antigos bíblicos;

D) transmitem uma mensagem de Deus que é relevante para o tempo em que os livros foram escritos;

E) São escritos durante o período de 200 a.C – 200 a.D, ou se depois ditos, preserva as tradições judaicas do mesmo período.

Por uma questão de definição os apócrifos seriam os livros extra canônicos encontrados na maioria na septuaginta e não na vulgata latina.

ALGUMAS POSSÍVEIS RAZÕES PARA TEREM SIDO FEITOS

Durante séculos Deus enviara Seus servos, os profetas, com mensagens especiais convidando Seu povo a voltar-se para Ele. Todavia não prestaram atenção. Assim, durante todo o período intertestamentário não receberam nenhuma mensagem profética. De acordo com a tradição judaica a profecia havia cessado com os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.

Era uma época de tristeza e desesperança. Como não houvesse nenhuma orientação inspirada, alguns resolveram escrever, mesmo sem inspiração, com o objetivo de consolar e encorajar o povo. Todavia, como o cânon já estava fechado, se colocassem o seu próprio nome como autores, seus escritos não seriam considerados. Então, anotaram como autores os nomes dos grandes personagens de Israel, heróis e destacados líderes espirituais que viveram antes de fechar-se o cânon: Abraão, José, Moisés, Salomão, Isaías, Jeremias, etc. Como resultado, com o correr do tempo esses pseudepígrafos tiveram grande circulação entre os judeus e cristãos e foram amplamente aceitos.

CARACTERIZAÇÃO GERAL

A) É considerado um terceiro desenvolvimento: Canon AT, Apócrifos, Pseudepígrafos.


B) São datados de 200 a.C. e 200 d.C, quase todos eles são de natureza apocalíptica.


Se conhece  a antiguidade dos pseudo-epigrafes por meio de filo de Alexandria, Josefo, e dos manuscritos do mar morto.


C) Sua maior influência é na área da tradição profética, pois a maioria versa sobre questões apocalípticas. 


 D) Apesar de não serem canônicos, são bem representados entre o material achado nas cavernas próximas do Mar Morto. Isso implica que, entre os Judeus em Jerusalém e os judeus da Dispersão, eles eram importantes. Lançam luz sobre o pano de fundo judaico do Novo Testamento.


 E) Os Católicos Romanos preferem o nome Apócrifos, provavelmente porque os livros que os protestantes chamam de apócrifos são livros canônicos para os católicos romanos.


F) Muitas obras pseudepígrafas são anônimas. Porém, muitas são de “falso autor”.


G) Conteúdo: Tudo quanto faz parte religião aparece ali, desde ensinos éticos até relatos de experiências místicas, desde profecias até exposição escriturísticas, desde história até poesia, desde filosofia até liturgia, desde apologética até didática.

Mas as ênfases principais são ensinos, apologética, temas filosóficos, pseudonarrativas com as devidas lições morais e espirituais, a busca da espiritualidade por parte da alma, principalmente através de experiências místicas.

Além disso, visões e iluminações, a ascensão a esferas celestiais, a descida a esferas infernais, com a consequente aquisição de conhecimentos. Mas, se quisermos salientar um tema maior, então temos as expectações apocalípticas dos diversos autores.

O conteúdo é mais variado do que o AT.

O judaísmo pós exílico se destingiu por volumosos e variadas literaturas de épicos tragédias, tratados de filosofias, de talvez histórias reais,  imaginativas recriações do passado, de sonhos apocalípticos e visões de um outro mundo,, de sabedoria humanística, acusações contra Deus até, hinos de introspecções de submissão a Deus reconhecendo sua justiça e salvação,. Gênios Judeus  explodiram em novos e criativos escritos .  Ilustrou a difundida influencia dos livros do antigo testamento no antigo judaísmo. Vemos nos pseudo epigrafes as consecutivas conquistas da palestinas pelos persas gregos e romanos. Mostra como os judeus pós exílios foram espinhos para as nações que tentaram conquistá-los, as divisões partidos, e as tensões entre eles.Assim são importantes fontes de entendimento da dimensão social  do judaísmo primitivo.

COMO SÃO CLASSIFICADOS

Nenhum único método de classificação tem merecido a aprovação de qualquer grande número de eruditos. Porém, o método favorito de classificação é por “procedência”. Através deste método, a classe maior é a do grupo hebreu-aramaico ou palestino.

Método por procedência

Principais obras do grupo maior palestino: Testamento dos 12 patriarcas, Jubileus, Martírio de Isaías, Salmos de Salomão, Ascenção de Moisés, o Apocalipse Siríaco de Baruque, o Testamento de Jó, os Paralipomena (coisas passadas) de Jeremias o Profeta, A vida de Adão e Eva, As Vidas dos Profetas.
Grupo judaico-helenista: Carta de Aristéias, Oráculos Sibilinos, III Macabeus (relatos lendários), IV Macabeus (obra de cunho filosófico), o Enoque Eslavônico, e parte do Baruque escrito em grego.

Método por Gênero Literário (Alguns exemplos)

Narrativas: Jubileus, a Vida de Adão e Eva, os Paralipomena de Jeremias.
Testamentos: Os doze patriarcas, Jó
Escritos litúrgicos: Salmos de Salomão, Hodayoth dos manuscritos do mar morto.
Apologias: Carta de Aristéias, III e IV Macabeus, Oráculos Sibilinos.
Apocalipses: Enoque, Moisés, Baruque.
Alguns livros possuem vários gêneros, então esta classificação não é final, porém é útil.

OBRAS PSEUDOEPÍGRAFAS

A obra “The Old Testament Pseudepihrapha” de James Charlesworth, apresenta 65 livros dessa natureza.

Mais conhecidos:

- I Enoque
- II Enoque
- A assunção de Moisés
- O testamento de Abraão
- A vida de Adão e Eva
- O apocalipse Grego de Baruque
- O apocalipse Siríaco de Baruque
- Martírio e Ascensão de Isaías
- Paralipomena de Jeremias
- Livro dos Jubileus
- Salmo de Salomão
- Oráculos Sibilinos
- Testamentos dos doze patriarcas
- Oração de José
- III Macabeus
- IV Macabeus

INFLUENCIA DOS ESCRITOS PSEUDOEPÍGRAFOS

Curiosidade

Apesar de serem de origem judaica, não teriam sido preservados sem os labores de escribas cristãos. Foram essencialmente preservados em grego, latim, siríaco, etiópico, cóptico e armênio. Vale ressaltar que a descoberta destes livros que, com a descoberta do rolos do mar morto, estes livros foram confirmados com grande antiguidade, anteriores aos trabalhos dos cristãos.

Segundo o autor (fonte), alguns escritores do NT incorporaram ideias (especialmente aquelas atinentes a predições proféticas).

Apologistas cristãos acharam nesses livros materiais de valor, como aquele que enfatiza questões devocionais.

Esses livros serviam de modelo para obras cristãs similares, especialmente aqueles chamados de apócrifos.

No judaísmo Helenista

O período intermediário entre o Antigo e o Novo Testamentos foi um tempo fértil quando ao desenvolvimento e mistura de ideias. O antigo judaísmo absorveu muitas ideias que não apareciam no próprio AT. A ideia da alma encontrou guarida na teologia Judaica, após muitos séculos primeiramente de incredulidade e então de obscurantismo. As chamas do inferno foram acesas pela primeira vez em I Enoque, uma ideia transferida então para o Novo Testamento. O esboço essencial da tradição profética foi elaborado durante esse período intertestamentário, conforme fica comprovado no artigo chamado Enoque Etíope. Ascenções aos céus e descidas às regiões infernais tornaram-se temas populares. 

Desse modo, os livros pseudepígrafos (juntamente com os escritos apócrifos, com os livros de Josefo e manuscritos do mar morto) vieram a outorgar-nos discernimento sobre a natureza do pensamento religioso e filosófico dos tempos judeu-helenistas. É necessário que o estudioso volva-se para os livros pseudepígrafos a fim de entender o desenvolvimento que teve lugar na teologia do judaísmo, após o encerramento do cânon do AT.

Sobre o NT

O trecho de Judas 14 é o único empréstimo direto que se vê no NT desses livros (Extraído de I Enoque). Todavia, há vários empréstimos verbais, o que indica que os autores do NT estavam acostumados com aqueles livros, não hesitando em incorporar as ideias de alguns deles em seus escritos. Acima de tudo, o que pode ser facilmente comprovado, os autores do NT incorporaram em suas obras o esboço profético geral dos livros pseudepígrafos, incluindo muitos termos e noções que se aplicam ao Messias. Ver sobre o Enoque Etíope, quanto a uma completa demonstração. Também não poderíamos deixar de mencionar aqui o conceito de um inferno em chamas, tomado por empréstimo de I Enoque.

Deus orientou o idoso apóstolo João, para que escrevesse o último livro da Bíblia seguindo o mesmo estilo apocalíptico já tão conhecido por Seu povo.

Ideias desenvolvidas nesse período

O conceito da alma tornou-se universal no judaísmo, algumas vezes vinculado à ideia de reencarnação.
Um inferno em chamas tornou-se doutrina para alguns judeus.

Foi desenvolvida uma elaborada angelologia, incorporando-se ideias persas, mas, ocasionalmente com adições inéditas e fantásticas.

Foi dada grande ênfase ao apocalipticismo.

Doutrinas messiânicas, algumas delas de elevada ordem, bem como o esboço geral das predições proféticas.

A doutrina da ressurreição dos mortos ficou estabelecida.

CURIOSIDADES

Exemplo de influências de pseudepígrafos no NT: I Enoque 1:6 citado em Judas 14.

I Enoque 1:6

“Em verdade! Ele virá com milhares de Santos, para exercer o julgamento sobre o mundo inteiro e aniquilar todos os malfeitores, reprimir toda carne pelas más ações tão iniquamente perpetradas e pelas palavras arrogantes que os pecadores insolentemente proferiram contra Ele.”

Judas 14

“E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos”.

Resumos de algumas obras:

I Enoque: Visões dadas em forma de sonhos, sobre o curso inteiro da historia, desde o princípio até o fim.

Assunção de Moisés: Supostamente apresenta as instruções finais de Moisés, antes de seu corpo ser assunto ao céu. Expõe um quadro profético da história e do futuro de Israel, começando pelos dias de Moisés e estendendo-se até o estabelecimento do reino de Deus. Aparentemente o autor foi um Fariseu que aproveitou o ensejo para protestar contra a secularização do seu grupo. Essa obra atualmente só é conhecida em um fragmento latino, embora haja algumas alusões a mesma no NT, Juda e II Pedro.

II Enoque: Descreve como o patriarca Enoque subiu aos céus – dez céus – em vista do que foi capacitado a deixar instruções espirituais aos seus filhos. Ensina preexistência da alma, de acordo com ideias platônicas e neoplatônicas.

II Baruque: Descreve o tempo da queda de Jerusalém em 596 a.C. Trata das misérias e perseguições dos judeus, do pecado original do homem, da justiça divina e da vinda do Messias e Seu reino messiânico.

III Baruque: Descreve a mediação dos anjos. São dadas ideias adicionais sobre a queda de Adão. 

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Referências bibliográficas

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